JOSÉ ÁNGEL CILLERUELO
A POESIA ESPANHOLA NOS 90
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Convém seguir com atenção quanta novidade tragam as tradições poéticas ocidentais, ainda que caiba advertir sobre o perigo de uma excessiva observação da arte juvenil ou emergente por parte da sociedade. As concepções culturais são normalmente questionadas apenas a partir da margem; e a juventude é, sem dúvida, uma das margens com maior capacidade para subverter o estabelecido e propor o artisticamente insólito. À força de bater contra o muro da sua própria incompreensão, a sociedade parece ter entendido esta lei da dinâmica cultural. E, como consequência, considera-se hoje a juventude como um objecto privilegiado de atenção. Até parecem tê-lo compreendido os cautos organizadores de prémios literários com mais dinheiro. Esta avultada atenção para com os jovens não invalida, contudo, a dinâmica que das margens renova a arte. Unicamente consegue é situar no centro o que por natureza tem de estar fora, e isso talvez vicie a capacidade que os jovens têm para realizar uma renovação cultural profunda. Ou pelo menos parece ser este o perigo.
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(excerto do Posfácio a Poesia Espanhola, Anos 90, de Joaquim Manuel Magalhães, Relógio d'Água, 2000)