8.9.11


JOSÉ ÁNGEL CILLERUELO

A POESIA ESPANHOLA NOS 90

[...]
Convém seguir com atenção quanta novidade tragam as tradições poéticas ocidentais, ainda que caiba advertir sobre o perigo de uma excessiva observação da arte juvenil ou emergente por parte da sociedade. As concepções culturais são normalmente questionadas apenas a partir da margem; e a juventude é, sem dúvida, uma das margens com maior capacidade para subverter o estabelecido e propor o artisticamente insólito. À força de bater contra o muro da sua própria incompreensão, a sociedade parece ter entendido esta lei da dinâmica cultural. E, como consequência, considera-se hoje a juventude como um objecto privilegiado de atenção. Até parecem tê-lo compreendido os cautos organizadores de prémios literários com mais dinheiro. Esta avultada atenção para com os jovens não invalida, contudo, a dinâmica que das margens renova a arte. Unicamente consegue é situar no centro o que por natureza tem de estar fora, e isso talvez vicie a capacidade que os jovens têm para realizar uma renovação cultural profunda. Ou pelo menos parece ser este o perigo.
[...]

(excerto do Posfácio a Poesia Espanhola, Anos 90, de Joaquim Manuel Magalhães, Relógio d'Água, 2000)

7.9.11

ARTUR DO CRUZEIRO SEIXAS


Em tempos de crise, o Surrealismo faz falta?
Claro que faz. Só se é gente quando se protesta. Só se é gente quando se quer dar um passo em frente. Só se é gente quando se tem um ponto de vista próprio. E isso tudo estava no Surrealismo. Infelizmente, neste século XXI a Humanidade ainda cai nas ratoeira do futebol e afins, vivendo alheada. O que é difícil de perceber, depois de experiências tão duras como as que viveu nas últimas décadas.

(excerto de entrevista a Luís Ricardo Duarte, in JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 1068 - de 7 a 20 de Setembro de 2011)

4.9.11

[anónimo] Turcomano, ou Mongol (Século XIII?)


Tornei-me o vosso Rei
Peguemos em arco e escudo.
Seja virtude nossa: tamga
Hurrah! «A lobo, gris-azulado»
As lanças darão floresta.
Onagro, de caça faz os terrenos
E mares e rios...
Um estandarte
O sol. E o céu — acampamento.
[nota do tradutor: O tamga, «ferro quente», do terceiro verso: marca no gado, de forma geométrica; mas que pode surgir igualmente nas pedras tumulares turcas - subidas.]

(in Poemas Anónimos Turcos, Mongóis, Chineses e Incertos, por Gil de Carvalho [tradução, prefácio e notas], Assírio & Alvim, 2004 - Gato Maltês)