[da série eu gosto é de letrinhas pequenas entre parêntesis ou dá cá Leiria que eu te dou Moura]
NUNO MOURA
1
é de origem entronca e de pais separos
e teve mais de noventa mil pessoas delirias
no estádio das antas para o lançamento
do seu último livro de poesia.
seguiu em turné por Paranhos Bessa
e depois são luis pelo sul
tendo uma andança de três ponto um milhões
só em vendas estádias.
somando a viagem recitária
as exportações para o resto do mundo
e o residual fotocópio
totobola para cima de quinze ponto sete milhões
de livros.
só em receitas publicitárias com a telecele pêtê cêpê
renô náique sequipe e ibêéle
fala-se de valores na casa dos champálimôs.
portugal é um país de poetas ricos.
a poesia dá dinheiro a portugal.
(de Nova Asmática Portuguesa, Mariposa Azual, 1998 – em itálico no original)
18.7.08
17.7.08
16.7.08
PABLO NERUDA
XVI
Eis a árvore aqui na pura pedra,
na evidencia, na dura formosura
por cem milhões de anos construída.
Ágata e cornalina e luminária
substituíram seivas e madeira
até que o tronco do gigante
recusou a molhada podridão
e moldou uma estatua paralela:
a folhagem vivente
se desfez
e quando o vertical foi derrubado,
queimado o bosque, a ígnea poeirada,
a celestial cinza o envolveu
até que tempo e lava lhe outorgaram
um galardão de pedra transparente.
(tradução de António Manuel Couto Viana, in Por Outras Palavras, Vega, 1997 - original de Las piedras del cielo, 1970)
XVI
Eis a árvore aqui na pura pedra,
na evidencia, na dura formosura
por cem milhões de anos construída.
Ágata e cornalina e luminária
substituíram seivas e madeira
até que o tronco do gigante
recusou a molhada podridão
e moldou uma estatua paralela:
a folhagem vivente
se desfez
e quando o vertical foi derrubado,
queimado o bosque, a ígnea poeirada,
a celestial cinza o envolveu
até que tempo e lava lhe outorgaram
um galardão de pedra transparente.
(tradução de António Manuel Couto Viana, in Por Outras Palavras, Vega, 1997 - original de Las piedras del cielo, 1970)
PAULO CASTILHO
(de Por Outras Palavras, Contexto editora, 2000)
No fim ficam os livros. De mim nunca ninguém saberá nada porque a escrita é um disfarce. Um labirinto de pistas falsas ao lado de verdadeiras. Eu próprio acabo por não saber o que realmente se passou e o que inventei. Foi uma das primeiras coisas que nele notei: a propensão para dizer frases destas. Como um sino anunciam coisas. Como o nome.
(de Por Outras Palavras, Contexto editora, 2000)
15.7.08
[a propósito disto e disto – e basta ir à base de dados da Biblioteca Nacional para perceber que há montes de livros com nomes iguais a outros livros]
ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA
EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA
O meu livro As (E)vocações Literárias, dado à estampa em 1980, incluía, pela primeira vez, nas obras a editar, um volume de traduções de poesia, sob o título Por Outras Palavras.
Os livros que se lhe seguiram (doze de poesia e três de estudos e memórias) mencionavam, também, esse conjunto de traduções, na bibliografia dos inéditos, conservando o mesmo nome, que me pareceu original e adequado (opinião partilhada por David Mourão-Ferreira).
No texto que me é dedicado, na Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura (Verbo), ele figura na lista dos meus livros a aparecer.
Todavia, em 1990, o poeta Joaquim Pessoa, talvez ignorando os, até então, dez anos de divulgação de tal título, resolve publicar um volume de poesia a que chamou, precisamente, Por Outras Palavras!
E, do mesmo modo, procede Ivone de Moura, tempos depois, atribuindo idêntico nome a um trabalho didáctico da sua autoria.
Devo confessar que nenhum dos dois livros mencionados, quanto a mim, merece assim intitular-se.
Creio que somente este meu tem o direito de nomear-se Por Outras Palavras.
E já não me refiro ao argumento (sério) da antiguidade; aos quinze anos em que o fui anunciando.
Mas porque, realmente, traduzir Poesia é interpretar, por outras palavras, de determinada língua, os pensamentos, os sentimentos, servidos pelo ritmo, a métrica, a rima, que foram transmitidos por uma inspiração em língua alheia.
Daí que, embora estranhando as coincidências (que não vou classificar de plágios), mantenha o meu título na presente obra.
[…](in Por Outras Palavras, Vega, 1997)
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13.7.08
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
D. António Ferreira Gomes
Na cidade do Porto há muito granito
Entre névoas sombras e cintilações
A cidade parece firme e inexpugnável
E sólida – mas habitada
Por súbitos clarões de profecia
Junto ao rio em cujo verde se espelham as visões
Assim quando eu entrava no Paço do Bispo
E passava a mão sobre a pedra rugosa
O paço me parecia fortaleza
Porém a fortaleza não era
Os grossos muros de pedra caiada
Nem os limites de pedra nem a escada
De largos degraus rugosos de granito
Nem o peso frio que das coisas inertes emanava
Fortaleza era o homem – o Bispo –
Alto e direito firme como torre
Ao fundo da grande sala clara: fortaleza
De sabedoria e sapiência
De compaixão e justiça
De inteligência a tudo atenta
E na face austera por vezes ao de leve o sorriso
Inconsútil da antiga infância.
(não incluído em nenhum livro – publicado em vários locais; por exemplo aqui)
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