JOÃO RUI DE SOUSA
FRAGMENTOS PARA DEBUSSY
Evocando o Prélude
à l'après-midi d'un faune
Cíclica vertigem
aquecida ao rubro do teu canto
- espero e invoco.
Sinais de búzios,
compassados ecos,
completos sempre
em vegetal memória.
Esperar? Exacto
- que há sempre mais e mais
na voz da água pura.
Pedir? Também
- que é sempre cheia e grave
a face que escolheste.
Querer mais? Muito mais?
Não sei. Fértil e exacto
o que me dão, nada mais me cabe.
*
Se invoco um nome grato
é porque, à luz com que eu encontro
a claridade em castos olhos,
invoco, julgo, um nome com o meu sangue.
Se invoco um nome afável
- guitarra harpa
astro puro areia -
é porque sei ou sinto
que é aí - está aí -
a paisagem que me abrange.
*
De novo surges
como névoa ao sol da vida,
estrídulo arco,
como um papel branquíssimo
sobre a areia.
De novo surges...
*
Singelo e ao vento, persigo-te
(nos ramos, na flor, na aragem)
até encontrar a oculta voz,
o espírito puro
com que tudo se move e dilui
- para beijá-lo.
FRAGMENTOS PARA DEBUSSY
Evocando o Prélude
à l'après-midi d'un faune
Cíclica vertigem
aquecida ao rubro do teu canto
- espero e invoco.
Sinais de búzios,
compassados ecos,
completos sempre
em vegetal memória.
Esperar? Exacto
- que há sempre mais e mais
na voz da água pura.
Pedir? Também
- que é sempre cheia e grave
a face que escolheste.
Querer mais? Muito mais?
Não sei. Fértil e exacto
o que me dão, nada mais me cabe.
*
Se invoco um nome grato
é porque, à luz com que eu encontro
a claridade em castos olhos,
invoco, julgo, um nome com o meu sangue.
Se invoco um nome afável
- guitarra harpa
astro puro areia -
é porque sei ou sinto
que é aí - está aí -
a paisagem que me abrange.
*
De novo surges
como névoa ao sol da vida,
estrídulo arco,
como um papel branquíssimo
sobre a areia.
De novo surges...
*
Singelo e ao vento, persigo-te
(nos ramos, na flor, na aragem)
até encontrar a oculta voz,
o espírito puro
com que tudo se move e dilui
- para beijá-lo.
(de Circulação, 1960)