EDUARDO WHITE
É ou não é verdade
que a carinhosa maneira como choramos
quando nascemos
surpreende
nossos pés voltados para o ar?
Advirá daí o engenho que escondemos
e que nos faz ambicionar sonhar ou voar?
Não sabemos.
Mas quis a vida tivéssemos,
ao contrário de raízes
como as árvores,
estes olhos para as distâncias
ou então para os sonhos que não fazemos,
não tocamos
e só vemos
quando os temos voltados para dentro. Precisas de colher com o tempo a justa solidão que te refaz. Colher devagar, sem excessos, para que não desesperes e nem morrer te apeteça. Atravessa o silêncio, algum rumor enternece, não é o silêncio tão deserto. Cresce, com o coração em repouso és mais nascente e não se revela o medo. Mede a febre onde a febre se esconde, ouve o sangue silvar, a solidão acordará para a alma a ave que és e não conheces.
(de Poemas da Ciência de Voar e da Engenharia de Ser Ave, editorial Caminho, 1992)
É ou não é verdade
que a carinhosa maneira como choramos
quando nascemos
surpreende
nossos pés voltados para o ar?
Advirá daí o engenho que escondemos
e que nos faz ambicionar sonhar ou voar?
Não sabemos.
Mas quis a vida tivéssemos,
ao contrário de raízes
como as árvores,
estes olhos para as distâncias
ou então para os sonhos que não fazemos,
não tocamos
e só vemos
quando os temos voltados para dentro. Precisas de colher com o tempo a justa solidão que te refaz. Colher devagar, sem excessos, para que não desesperes e nem morrer te apeteça. Atravessa o silêncio, algum rumor enternece, não é o silêncio tão deserto. Cresce, com o coração em repouso és mais nascente e não se revela o medo. Mede a febre onde a febre se esconde, ouve o sangue silvar, a solidão acordará para a alma a ave que és e não conheces.
(de Poemas da Ciência de Voar e da Engenharia de Ser Ave, editorial Caminho, 1992)