PUREZA
Nós
jamais ficamos lívidos.
E nascemos tão simples
que o rubor em nossos rostos
não tem sentido
não é possível
nem existe.
É uma fonte de aves o nosso canto
e o grito de capataz
não é sonho inventado
mas existe na manhã cósmica dos cargueiros atracados
e guindastes de duzentas e cinquenta toneladas.
Lívidos
nascem os outros
e o rubor em nossos rostos
não tem sentido nem existe.
Mas o permanente sentido de angústia
nossos corações de negros
faz cada vez mais puros.
(da selecção de poemas que acompanha o texto de Jorge de Sena em Poesia de Moçambique I, Minerva Central, 1972; publicado originalmente em A Voz de Moçambique de 31 de Março de 1962)