[para uma antologia de bicicletas - 13]
CARLOS LEITE
Outra bicicleta mais veloz que a verdade
das cautelas numeradas sobre a qual Sorte
me queres a toda a força montar quisera eu agora
eu que de tudo o que quero é só não ter ou não ser de
pedalar mas estar aqui agora assim
Olha Sorte para melhor me teres ou comigo estares
joguemos um tudo ou nada lotaria simples
a não haver tu nem a verdade nem sequer uma
bicicleta mais leve do que esta com que pedalo
ao longo duma ainda mais aleatória estrada
país ou dia intransitáveis. Se ganhares
dizendo sim sem esforço nenhum me ganhaste
destino cego e eu cumpro monto dócil até ao fim
Mas se não perderes então uma de alumínio quero
marca Altis roda 28.
(de O Brilho do Residual, Gota de Água e Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1985)
3.3.07
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Carlos Leite,
Portuguesa
1.3.07
[sempre fui do Sporting, mas creio que qualquer pessoa da minha idade, independentemente do clube, lembrará os nomes dos jogadores do Benfica dos anos 80. Bento está marcado nas minhas memórias de infância, sobretudo por causa de um jogo (acho que amigável), que vi ali em baixo, da nossa Selecção com a da Alemanha, em 1982 ou 1983]
MANUEL ALEGRE
A FESTA
Eram talvez setenta a oitenta mil
bandeiras como cravos cor de Abril.
Eram talvez setenta a oitenta mil
e uma só voz um só clamor
E lá em baixo na relva longe e perto
o Bento o Alves o Nené o Humberto
camisola vermelha flor de Abril
como um só coração uma só cor
Não me venham dizer que futebol não presta
Eu não sei de outro rito não sei de outra festa
Falta um minuto. Aí vem o Chalana: é golo
E tocam no Olimpo as trombetas de Apolo
E passa a humilhação passa a tristeza
e passa o dia-a-dia e só nos fica
este minuto de alegria e de beleza
este grito na noite este clamor: Benfica
(in O Desporto na poesia portuguesa, pesquisa selecção e notas de José do Carmo Francisco, Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, 1989)
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