DOIS POEMAS LADO A LADO
poeira
a luz
que nos morre
soluçando
espanto
a luz
conseguida
no silêncio
23.10.03
22.10.03
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Concerto dos Tindersticks
Impossível dizer até que ponto
a rapidez de tudo
atinge as paisagens na sua certeza
o significado dos instintos
desde muito cedo
os modos de travessia, os receios
imagens em que não pensamos
pela noite tua voz descreve
isso de nós que não tem defesa
um amor
largado às sombras, irreconhecível
até de perto
dizem que se tratou de
derivas, ingenuidades, ilusões
o teu amor é um nome qualquer
que parte
(de Baldios, Assírio & Alvim, 1999)
Concerto dos Tindersticks
Impossível dizer até que ponto
a rapidez de tudo
atinge as paisagens na sua certeza
o significado dos instintos
desde muito cedo
os modos de travessia, os receios
imagens em que não pensamos
pela noite tua voz descreve
isso de nós que não tem defesa
um amor
largado às sombras, irreconhecível
até de perto
dizem que se tratou de
derivas, ingenuidades, ilusões
o teu amor é um nome qualquer
que parte
(de Baldios, Assírio & Alvim, 1999)
POEMA PE(R)DIDOS (serviço de apoio ao cliente)
Ultimamente, o José Mário Silva tem tido o irritante hábito de actualizar rectroactivamente o seu blog. Ou seja: está uns dias sem colocar nada e de repente, zás, aparecem uma catrefada de dias, todos de uma vez.
Ora num dos que apareceu hoje (com data de anteontem...) o José Mário queixa-se que não consegue encontrar um determinado poema. Mesmo sofrendo do mesmo mal biblio-geológico, cá consegui que a coisa não ficasse só pela intenção, como poderão constatar já de seguida.
Ultimamente, o José Mário Silva tem tido o irritante hábito de actualizar rectroactivamente o seu blog. Ou seja: está uns dias sem colocar nada e de repente, zás, aparecem uma catrefada de dias, todos de uma vez.
Ora num dos que apareceu hoje (com data de anteontem...) o José Mário queixa-se que não consegue encontrar um determinado poema. Mesmo sofrendo do mesmo mal biblio-geológico, cá consegui que a coisa não ficasse só pela intenção, como poderão constatar já de seguida.
21.10.03
20.10.03
O Museu da Fundação Arpad Szénes-Vieira da Silva tem neste momento duas excelentes exposições temporárias a decorrer:
- uma selecção de desenhos que Júlio Pomar fez para a Guerra e Paz há quarenta e tal anos e que nunca tinha sido expostos;
- "Fenosa e o seu amigo Picasso", que reúne uma série de obras dos dois artistas (Picasso considerava Fenosa como o seu filho de mãe desconhecida) e fotografias de ambos, sobretudo da fase em que viviam em Paris.
Entretanto, nunca é demais olhar para a Biblioteca em fogo de Maria Helena (é um prazer tentar descobrir as associações possíveis para as iniciais nas lombadas dos livros) ou para as praias de Arpad.
Lembro que à segunda-feira a entrada é gratuita!
(com um bocado de sorte podem ouvir os seguranças a falar sobre jogos de consola durante a vossa visita)
- uma selecção de desenhos que Júlio Pomar fez para a Guerra e Paz há quarenta e tal anos e que nunca tinha sido expostos;
- "Fenosa e o seu amigo Picasso", que reúne uma série de obras dos dois artistas (Picasso considerava Fenosa como o seu filho de mãe desconhecida) e fotografias de ambos, sobretudo da fase em que viviam em Paris.
Entretanto, nunca é demais olhar para a Biblioteca em fogo de Maria Helena (é um prazer tentar descobrir as associações possíveis para as iniciais nas lombadas dos livros) ou para as praias de Arpad.
Lembro que à segunda-feira a entrada é gratuita!
(com um bocado de sorte podem ouvir os seguranças a falar sobre jogos de consola durante a vossa visita)
demore em nós a sombra do Teu amor que salva
(de uma oração dos cristãos Maronitas - séc. V)
(de uma oração dos cristãos Maronitas - séc. V)
19.10.03
GOMES LEAL
Cantiga do campo
Como eu adoro as tuas «simplicidades!»
Heine
Porque andas tu mal comigo,
Ó minha doce trigueira?...
Quem me dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!
Quando entre as mais raparigas
Vais cantando entre as searas,
Eu choro, ao ouvir-te as cantigas
Que cantas nas noites claras!...
Os que andam na descamisa
Gabam a viola tua,
Que, às vezes, ouço na brisa
Pelos serenos da lua.
E falam com tristes vozes
Do teu amor singular
Aquela casa onde coses
Com varanda para o mar.
Por isso nada me medra,
Ando curvado e sombrio!...
Quem me dera ser a pedra
Em que tu lavas no rio!
E andar contigo, ó meu pomo,
Exposto às chuvas e aos sóis...
E uma noite morrer como
Se morrem os rouxinóis!
Morrer chorando, num choro
Que mais as mágoas consola,
Levando só o tesouro
Da nossa triste viola!
Porque andas tu mal comigo,
Ó minha doce trigueira?...
Quem me dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!
(de Claridades do Sul, 1875; 2ª edição, revista e aumentada: 1901 - retirado da edição de 1998, de José Carlos Seabra Pereira, para a Assírio & Alvim)
Cantiga do campo
Como eu adoro as tuas «simplicidades!»
Heine
Porque andas tu mal comigo,
Ó minha doce trigueira?...
Quem me dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!
Quando entre as mais raparigas
Vais cantando entre as searas,
Eu choro, ao ouvir-te as cantigas
Que cantas nas noites claras!...
Os que andam na descamisa
Gabam a viola tua,
Que, às vezes, ouço na brisa
Pelos serenos da lua.
E falam com tristes vozes
Do teu amor singular
Aquela casa onde coses
Com varanda para o mar.
Por isso nada me medra,
Ando curvado e sombrio!...
Quem me dera ser a pedra
Em que tu lavas no rio!
E andar contigo, ó meu pomo,
Exposto às chuvas e aos sóis...
E uma noite morrer como
Se morrem os rouxinóis!
Morrer chorando, num choro
Que mais as mágoas consola,
Levando só o tesouro
Da nossa triste viola!
Porque andas tu mal comigo,
Ó minha doce trigueira?...
Quem me dera ser o trigo
Que, andando, pisas na eira!
(de Claridades do Sul, 1875; 2ª edição, revista e aumentada: 1901 - retirado da edição de 1998, de José Carlos Seabra Pereira, para a Assírio & Alvim)
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