24.3.13

GERARDO DIEGO


OS OMBROS DOS FILÓSOFOS

Os ombros dos filósofos estabelecem o aqueduto
de onde nos chega o sangue obtido pelo degelo
dos mais altos corações
Se ponho os meus maxilares nesse entreposto de séculos
estremecem-me aladas todas as árvores das minhas veias
e enchem-se de repente as minhas humilhadas bochechas

Ninguém tem o direito de trocar um inverno de cinema
por um par de pistolas incrustadas de estrelas
nem a conseguir que o céu lhe devolva as suas bengalas esquecidas
e os seus cartões de visita desperdiçados

O que já entrou no canal intestinal da serpente
nunca mais se arrepende nem sequer
faz um nó gracioso no mais belo do caminho

Deixa-me passar a mão pelo dorso suavíssimo destes versos que escrevo
A eternidade assim por baixo dos meus dedos miará ternamente


(tradução minha – original de Biografia incompleta, 1925-1941)