AMBROSE BIERCE
O TEMOR E O ORGULHO
- Bom-dia, amigo – disse o Temor ao Orgulho – então que tal se sente esta manhã?
- Muito cansado – respondeu o Orgulho, sentando-se à beira da estrada, e enxugando a testa coberta de suor. – Os políticos extenuam-me, à força de se servirem de mim para exporem as suas ignóbeis acusações, quando podiam, muito bem, recorrer a um cacete.
E o Temor respondeu, soltando um suspiro de simpatia:
- Pois eu estou numa situação bastante igual à sua. Em vez de utilizarem uns binóculos, é por meu intermédio que observam os actos dos seus adversários.
E iam os dois resignados escravos juntar as lágrimas, quando lhes chegou ordem de retomarem o serviço, porque um dos partidos políticos acabava de eleger um gatuno para seu chefe, e preparava-se para celebrar um reunião comemorativa do acontecimento.
(de Fábulas Fantásticas, tradução de João da Fonseca Amaral, editorial Estampa, 1971)