MARIA DE LOURDES BELCHIOR
PALAVRA
Onde as palavras lisas e límpidas
capazes de transportar
esta quotidiana inquietação
ração diária de gozo e dor?
Onde as palavras purificadas
do lastro do uso das nossas falas mortais?
Não mais na linha do horizonte a Palavra?
Enraizadas no terrunho; carregadas de sonoridade
sujas, enfarinhadas, as palavras senha do nosso falar comum
fabricam o pão alimento, suporte do diálogo impossível.
Só palavras genesíacas, lustrais, abissais,
hão-de revelar e decifrar o verdadeiro nome das coisas?
Que linguagem, miragem do ser e do estar
há-de dizer homem, mundo, amor?
Na linha do horizonte impossível?
a Palavra?
Só no fim dos tempos decifrada?
(de Gramática do Mundo, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 1985)
13.9.06
12.9.06
[para assinalar a chegada de um blog com nome de livro]
PAULO JOSÉ MIRANDA
A voz que nos trai
Talvez, é aquilo que nos pode servir de desculpa,
que dá sentido a uma espera, ao empenhamento dissimulado,
à mentira mais profunda que se pode erigir.
Não é nem velho nem novo, e a meio caminho da vida e da morte
encontra-se consigo a medir tarefas, dinheiros, tempo.
A beleza é sempre tardia junto ao corpo.
Quem se não reconhece ao virar de si sofre inutilmente,
deita-se para não acordar, levanta-se para muito pouco mais.
Jogamos a mão a um livro como se não temesse a morte
e a voz que se escuta trai-nos de todo a vida.
Talvez, que a beleza é sempre tardia.
Quando a carne se rasgar por dentro numa úlcera,
o hálito denunciar o declínio das suas esperanças,
talvez então aí encontre a verdade que procura,
talvez encontre o que sempre soube com medo,
porque nem sempre escondeu a sua vida.
Uma veia que se entope, a visão perdida,
os talheres e os copos a agitarem-lhe as mãos
e ao espelho cada ano um velho desconhecido,
será este o diagrama do fracasso, de uma vida?
Talvez as culpas fiquem por atribuir,
talvez que de um outro modo pudesse tudo ter sido diferente,
talvez não caminhasse para a miséria, para a morte, um nada sem fim.
Talvez, que a beleza é sempre tardia, junto ao corpo.
(de A voz que nos trai, edições Cotovia, 1997)
PAULO JOSÉ MIRANDA
A voz que nos trai
Talvez, é aquilo que nos pode servir de desculpa,
que dá sentido a uma espera, ao empenhamento dissimulado,
à mentira mais profunda que se pode erigir.
Não é nem velho nem novo, e a meio caminho da vida e da morte
encontra-se consigo a medir tarefas, dinheiros, tempo.
A beleza é sempre tardia junto ao corpo.
Quem se não reconhece ao virar de si sofre inutilmente,
deita-se para não acordar, levanta-se para muito pouco mais.
Jogamos a mão a um livro como se não temesse a morte
e a voz que se escuta trai-nos de todo a vida.
Talvez, que a beleza é sempre tardia.
Quando a carne se rasgar por dentro numa úlcera,
o hálito denunciar o declínio das suas esperanças,
talvez então aí encontre a verdade que procura,
talvez encontre o que sempre soube com medo,
porque nem sempre escondeu a sua vida.
Uma veia que se entope, a visão perdida,
os talheres e os copos a agitarem-lhe as mãos
e ao espelho cada ano um velho desconhecido,
será este o diagrama do fracasso, de uma vida?
Talvez as culpas fiquem por atribuir,
talvez que de um outro modo pudesse tudo ter sido diferente,
talvez não caminhasse para a miséria, para a morte, um nada sem fim.
Talvez, que a beleza é sempre tardia, junto ao corpo.
(de A voz que nos trai, edições Cotovia, 1997)
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11.9.06
GASTÃO CRUZ
DEPOIS DE AGOSTO
A imagem do mármore desfaz-se
no mar que representa
Agosto sobrevive O céu encurva
como uma onda a luz
(de As Leis do Caos, 1990)
DEPOIS DE AGOSTO
A imagem do mármore desfaz-se
no mar que representa
Agosto sobrevive O céu encurva
como uma onda a luz
(de As Leis do Caos, 1990)
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