TIMOR: UMA CASA PARA CONSTRUIR
Faz hoje 27 anos que, mais em acto de ingenuidade desesperada do que de agressiva atitude política, um grupo de jovens timorenses proclamava a independência da República Democrática de Timor Leste.
28.11.03
RUY CINATTI
PROPÓSITO INADIÁVEL
O que magoa é ver o pobre
timorense esquálido beber
água do pântano,
onde se escoam lixos,
comer poeira
e saudar-me, quando
rodo na estrada,
deus ocioso.
Tantos e tantos outros,
timorenses esquálidos,
olham-me como se dever fosse
abrir covas,
plantar repasto
de milho, arroz e carne,
encher copos vazios,
de bebedeira e sonho,
que não magoe,
mortifique o ócio,
reanime o tempo.
Fugir é melhor que prometer
esperança em melhores dias.
Fugir é atrasar
o discurso limite
travado pelas rodas
da dúvida maníaca.
Eu não prometo nada.
Invoco os montes
feridos pela luz,
o mar que me circunda
em Díli terra-tédio e de má gente.
Afino-me pelo timbre
limpo das almas
dos timorenses esquálidos
que me soletram vivo.
E sigo,
limpo na alma e no rosto,
sujeito à condição que me redime.
Os timorenses só terão razão
quando me matarem.
(de Uma Sequência Timorense, 1970)
REALISMO POLÍTICO
Se os Timorenses quiserem ser Indonésios,
passem para o outro lado.
Se os Timorenses quiserem ser Portugueses,
têm-me a seu lado.
Se os Timorenses quiserem ser independentes,
construam-se.
30/6/74
(de Timor-Amor, 1974 - na versão original a última palavra deste poema era "sumam-se". Porém, esta é a versão definitiva, incluída na antologia editada pouco depois da morte de Cinatti pela Presença e organizada por Joaquim Manuel Magalhães, que dele recebeu o encargo da substituição)
PROPÓSITO INADIÁVEL
O que magoa é ver o pobre
timorense esquálido beber
água do pântano,
onde se escoam lixos,
comer poeira
e saudar-me, quando
rodo na estrada,
deus ocioso.
Tantos e tantos outros,
timorenses esquálidos,
olham-me como se dever fosse
abrir covas,
plantar repasto
de milho, arroz e carne,
encher copos vazios,
de bebedeira e sonho,
que não magoe,
mortifique o ócio,
reanime o tempo.
Fugir é melhor que prometer
esperança em melhores dias.
Fugir é atrasar
o discurso limite
travado pelas rodas
da dúvida maníaca.
Eu não prometo nada.
Invoco os montes
feridos pela luz,
o mar que me circunda
em Díli terra-tédio e de má gente.
Afino-me pelo timbre
limpo das almas
dos timorenses esquálidos
que me soletram vivo.
E sigo,
limpo na alma e no rosto,
sujeito à condição que me redime.
Os timorenses só terão razão
quando me matarem.
(de Uma Sequência Timorense, 1970)
REALISMO POLÍTICO
Se os Timorenses quiserem ser Indonésios,
passem para o outro lado.
Se os Timorenses quiserem ser Portugueses,
têm-me a seu lado.
Se os Timorenses quiserem ser independentes,
construam-se.
30/6/74
(de Timor-Amor, 1974 - na versão original a última palavra deste poema era "sumam-se". Porém, esta é a versão definitiva, incluída na antologia editada pouco depois da morte de Cinatti pela Presença e organizada por Joaquim Manuel Magalhães, que dele recebeu o encargo da substituição)
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
O meu primeiro e inesquecível encontro com Timor foi aquela madrugada em que, ao chegarmos a casa, depois de não sei que festa, mal abrimos a porta da rua fomos surpreendidos por um barulho de vozes e risos. E quando abrimos a porta da sala vimos os nossos filhos - ainda pequenos - e a queridíssima criada Luísa sentados no chão em roda de Ruy Cinatti que tinha ao seu lado uma mala de onde iam saindo tecidos, objectos de madeira, caixas, pequenas estatuetas, punhais - e naquela noite de Lisboa cheirava de repente a sândalo.
Mal nos vimos abraçaram-nos com alvoroçada alegria. Depois também nós nos sentámos no chão. O Ruy contou que o avião dele tinha chegado já de noite e ele não tinha tido coragem para ir àquela hora em busca de hotel. Por isso tinha mandado o táxi seguir para a Travessa das Mónicas e disse que ia dormir ali mesmo no chão porque gostava muito do nosso chão. Mas logo a Luísa partiu a fazer-lhe uma cama e eu fui deitar as crianças tontas de sono e de excitação. E de novo me sentei no chão a ouvir as histórias de Timor, das árvores, das flores, dos búfalos , das fontes, das danças e dos ritos. E enquanto falava o Ruy ia mostrando as suas fotografias da maravilhosa mulher de longos gestos e dos homens vestidos com os belíssimos trajes tradicionais - às vezes levantava-se e fazia alguns passos de danças timorenses.
E assim ficámos até dez horas.
Ao longo dos dias, ao longo dos anos muitas vezes falei de Timor com o Ruy. Contou-me como celebrara o pacto de sangue com o chefe de uma família timorense e como por isso, segundo a lei ancestral de Timor, se tornara ele próprio um timorense. De facto para ele Timor era uma verdadeira pátria. Para mim era uma ilha encantada no extremo do Extremo Oriente, mas para ele uma pátria - o lugar onde encontrara o seu destino.
E um dia trouxe-me um poema que ele traduzira da língua tétum - Chamava-se Consagração de uma casa timorense.
Era um poema sobre a construção de uma casa - uma construção simultaneamente prática e sagrada pois é a casa onde moram os deuses e os homens, a alma dos antepassados mortos e os seus descendentes vivos. O lugar onde convivem o presente e o passado e o eterno.
Uma construção que é, nos materiais e formas usadas, uma técnica meticulosa e rigorosa e, simultaneamente, é, gesto por gesto, uma poética. E onde o espírito religioso estabelece o carácter sacral do quotidiano.
Uma construção que é simultaneamente trabalho, canto, dança, grito, consagração e festa. Uma ordenação que é poema vivido rente ao quotidiano.
Não posso deixar de citar uma passagem do texto que diz:
«Estão atando, amarrando andam,
atar pontas só, amarrar as bases só,
atando bem, peso igual.
Já andam levando, já sustentando aos ombros,
Levantando aos gritos, levando em algazarra,
Dançando o Hou-ló, dançando o Herlele,
Entoando o Sala-makat e o Da’a-doun.
Cão estrangeiro, galo estrangeiro.
Cantar o Kolo-kolo e o Bui-muk.
Levar até vir, trazer até vir,
Terra plana, terra nivelada,
Em terra umbigo, em terra centro.
Em terra meio, em terra eixo,
Junto pedra angular, em pátio sagrado
Colocar plano, pôr ordenadamente,
O cimeiro seguir um ao outro, o pé um ao outro.»
(excerto do prefácio a À Janela de Timor de João Aparício)
O meu primeiro e inesquecível encontro com Timor foi aquela madrugada em que, ao chegarmos a casa, depois de não sei que festa, mal abrimos a porta da rua fomos surpreendidos por um barulho de vozes e risos. E quando abrimos a porta da sala vimos os nossos filhos - ainda pequenos - e a queridíssima criada Luísa sentados no chão em roda de Ruy Cinatti que tinha ao seu lado uma mala de onde iam saindo tecidos, objectos de madeira, caixas, pequenas estatuetas, punhais - e naquela noite de Lisboa cheirava de repente a sândalo.
Mal nos vimos abraçaram-nos com alvoroçada alegria. Depois também nós nos sentámos no chão. O Ruy contou que o avião dele tinha chegado já de noite e ele não tinha tido coragem para ir àquela hora em busca de hotel. Por isso tinha mandado o táxi seguir para a Travessa das Mónicas e disse que ia dormir ali mesmo no chão porque gostava muito do nosso chão. Mas logo a Luísa partiu a fazer-lhe uma cama e eu fui deitar as crianças tontas de sono e de excitação. E de novo me sentei no chão a ouvir as histórias de Timor, das árvores, das flores, dos búfalos , das fontes, das danças e dos ritos. E enquanto falava o Ruy ia mostrando as suas fotografias da maravilhosa mulher de longos gestos e dos homens vestidos com os belíssimos trajes tradicionais - às vezes levantava-se e fazia alguns passos de danças timorenses.
E assim ficámos até dez horas.
Ao longo dos dias, ao longo dos anos muitas vezes falei de Timor com o Ruy. Contou-me como celebrara o pacto de sangue com o chefe de uma família timorense e como por isso, segundo a lei ancestral de Timor, se tornara ele próprio um timorense. De facto para ele Timor era uma verdadeira pátria. Para mim era uma ilha encantada no extremo do Extremo Oriente, mas para ele uma pátria - o lugar onde encontrara o seu destino.
E um dia trouxe-me um poema que ele traduzira da língua tétum - Chamava-se Consagração de uma casa timorense.
Era um poema sobre a construção de uma casa - uma construção simultaneamente prática e sagrada pois é a casa onde moram os deuses e os homens, a alma dos antepassados mortos e os seus descendentes vivos. O lugar onde convivem o presente e o passado e o eterno.
Uma construção que é, nos materiais e formas usadas, uma técnica meticulosa e rigorosa e, simultaneamente, é, gesto por gesto, uma poética. E onde o espírito religioso estabelece o carácter sacral do quotidiano.
Uma construção que é simultaneamente trabalho, canto, dança, grito, consagração e festa. Uma ordenação que é poema vivido rente ao quotidiano.
Não posso deixar de citar uma passagem do texto que diz:
«Estão atando, amarrando andam,
atar pontas só, amarrar as bases só,
atando bem, peso igual.
Já andam levando, já sustentando aos ombros,
Levantando aos gritos, levando em algazarra,
Dançando o Hou-ló, dançando o Herlele,
Entoando o Sala-makat e o Da’a-doun.
Cão estrangeiro, galo estrangeiro.
Cantar o Kolo-kolo e o Bui-muk.
Levar até vir, trazer até vir,
Terra plana, terra nivelada,
Em terra umbigo, em terra centro.
Em terra meio, em terra eixo,
Junto pedra angular, em pátio sagrado
Colocar plano, pôr ordenadamente,
O cimeiro seguir um ao outro, o pé um ao outro.»
(excerto do prefácio a À Janela de Timor de João Aparício)
JOÃO APARÍCIO
Nasceu em Díli, Timor Leste, em 1968.
PÁTRIA
Díli, 23-3-1987
A pura beleza
Minha úma lúlik
Infinda música
Ternura e fogo de um amor invencível
Flor universal de pétalas morenas.
[nota: úma lulik significa, literalmente, casa sagrada]
TIMOR FORTE
Díli, 10 de Junho de 1985
Quando fores perpetuamente livre,
Voa, Timor, voa! E mantém-te
Lá no firmamento, altura dos planetas.
Ergue fortaleza dos teus filhos,
Tece para as suas gerações uma ilha poderosa,
Para que nem por um só instante
Elas te digam, um dia:
Só nos legou uma casa,
Sem paredes, nem tecto,
Ó casa vazia!...
(de À Janela de Timor, editorial Caminho, 1999)
Nasceu em Díli, Timor Leste, em 1968.
PÁTRIA
Díli, 23-3-1987
A pura beleza
Minha úma lúlik
Infinda música
Ternura e fogo de um amor invencível
Flor universal de pétalas morenas.
[nota: úma lulik significa, literalmente, casa sagrada]
TIMOR FORTE
Díli, 10 de Junho de 1985
Quando fores perpetuamente livre,
Voa, Timor, voa! E mantém-te
Lá no firmamento, altura dos planetas.
Ergue fortaleza dos teus filhos,
Tece para as suas gerações uma ilha poderosa,
Para que nem por um só instante
Elas te digam, um dia:
Só nos legou uma casa,
Sem paredes, nem tecto,
Ó casa vazia!...
(de À Janela de Timor, editorial Caminho, 1999)
27.11.03
[sonhei que a primeira imagem deste blog seria do Pamplinas com sua locomotiva]
[uma espécie de mistura temática de dois blogs que muito admiro, num poema do autor de outro blog, que igualmente admiro]
RUI MANUEL AMARAL
QUE DIRÁS ESTA NOITE
Desta vez eu tenho um plano.
Vou crescer para ti como um gato,
aninhar-me como um gato no teu colo,
vou sussurrar coisas secretas ao teu ouvido,
prender o teu coração como uma sombra
ou um deus silencioso.
Esta noite, um saco de flores
para o meu único amor.
Um cigarro eternamente azul
para mim.
(de Quartzo, Feldspato e Mica, incluído em Com faca e garfo, colectânea de textos Jovens Criadores 2001, co-edição da Íman edições e do Clube Português de Artes e Ideias, 2002)
RUI MANUEL AMARAL
QUE DIRÁS ESTA NOITE
Desta vez eu tenho um plano.
Vou crescer para ti como um gato,
aninhar-me como um gato no teu colo,
vou sussurrar coisas secretas ao teu ouvido,
prender o teu coração como uma sombra
ou um deus silencioso.
Esta noite, um saco de flores
para o meu único amor.
Um cigarro eternamente azul
para mim.
(de Quartzo, Feldspato e Mica, incluído em Com faca e garfo, colectânea de textos Jovens Criadores 2001, co-edição da Íman edições e do Clube Português de Artes e Ideias, 2002)
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26.11.03
G. K. CHESTERTON
[determinado político] era uma pessoa popular, como são geralmente os homens públicos, que no entanto parecem tornar-se cada vez mais nebulosos à medida que sobem mais alto. São os jovens e são os desconhecidos que possuem doutrinas decisivas e intenções expressas com nitidez. Uma vez exprimi o facto dizendo, penso que com alguma verdade, que os político não têm política.
(da Autobiografia, trad. e notas de Luís de Sousa Costa, Livraria Morais editora, 1960 - Círculo do Humanismo Cristão)
[determinado político] era uma pessoa popular, como são geralmente os homens públicos, que no entanto parecem tornar-se cada vez mais nebulosos à medida que sobem mais alto. São os jovens e são os desconhecidos que possuem doutrinas decisivas e intenções expressas com nitidez. Uma vez exprimi o facto dizendo, penso que com alguma verdade, que os político não têm política.
(da Autobiografia, trad. e notas de Luís de Sousa Costa, Livraria Morais editora, 1960 - Círculo do Humanismo Cristão)
ESCRITOS DE QUMRAN
DA REGRA DA COMUNIDADE
O som da minha harpa por sua ordem santa
o sopro dos meus lábios à sua justa medida.
O dia e a noite começam, entro no pátio de Deus
a tarde e a manhã terminam, recito os seus preceitos.
Enquanto durarem eu hei-de estar
como fronteira, sem retorno.
(trad. José Tolentino Mendonça, in Rosa do Mundo - 2001 poemas para o futuro, Assírio & Alvim, 2001)
DA REGRA DA COMUNIDADE
O som da minha harpa por sua ordem santa
o sopro dos meus lábios à sua justa medida.
O dia e a noite começam, entro no pátio de Deus
a tarde e a manhã terminam, recito os seus preceitos.
Enquanto durarem eu hei-de estar
como fronteira, sem retorno.
(trad. José Tolentino Mendonça, in Rosa do Mundo - 2001 poemas para o futuro, Assírio & Alvim, 2001)
MANUEL MARIA BARREIROS
Viagem de Inverno
Sobre o horizonte Elêusis
presa de opaco silêncio
a boca escurecida
os olhos ainda quentes
pequeno esquife de areia
plácido calor do rádio
a velocidade da luz é 300 000 km por segundo
fala-se tanto nos aeroportos
um anjo negro
colou-se ao coração
como húmida película
____________
com pequena homenagem a
antónio franco alexandre
e morrissey
(in aqueles que têm os ossos frágeis nº 2 - primavera/verão 1999)
Viagem de Inverno
Sobre o horizonte Elêusis
presa de opaco silêncio
a boca escurecida
os olhos ainda quentes
pequeno esquife de areia
plácido calor do rádio
a velocidade da luz é 300 000 km por segundo
fala-se tanto nos aeroportos
um anjo negro
colou-se ao coração
como húmida película
____________
com pequena homenagem a
antónio franco alexandre
e morrissey
(in aqueles que têm os ossos frágeis nº 2 - primavera/verão 1999)
23.11.03
LORCA E A SUA POÉTICA
(De Viva Voz a G. D.)
«Mas que vou eu dizer da Poesia? Que te hei-de dizer de essas nuvens e de esse céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada acerca da Poesia. Isso é para os críticos e professores. Mas nem tu nem eu, nem nenhum poeta, sabe o que é a Poesia.
Aqui tens: repara. Eu tenho o fogo nas minhas mãos. Entendo-o e trabalho com ele perfeitamente, mas não posso falar dele sem literatura. Compreendo todas as poéticas; poderia falar delas se não mudasse de opinião de cinco em cinco minutos. Não sei. Pode ser que algum dia goste muitíssimo da má poesia, como gosto (como gostamos) hoje com loucura da má música. Incendiarei à noite o Partenon para começar a ergue-lo, de novo, pela manhã, sem nunca o terminar.
Tenho falado nas minhas conferências acerca da Poesia, mas do que não posso falar é da minha poesia. E não é porque seja um inconsciente daquilo que faço. Pelo contrário, se é verdade que sou poeta pela graça de Deus - ou do demónio -, também é verdade que o sou pela graça da técnica e do esforço, e por saber perfeitamente o que é um poema.»
F. G. L.
A presente nota sobre a Poética de Lorca foi ditada pelo próprio a Gerardo Diego e publicada por este na sua Poesia Española - Antologia 1915-1931, Editorial Signo, Madrid, 1932
(in Confronto - antologia de escritores modernos, volume 2º, 1946 - reproduzem-se texto e esclarecimento conforme a ortografia original. Não tem referência do tradutor.)
(De Viva Voz a G. D.)
«Mas que vou eu dizer da Poesia? Que te hei-de dizer de essas nuvens e de esse céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada acerca da Poesia. Isso é para os críticos e professores. Mas nem tu nem eu, nem nenhum poeta, sabe o que é a Poesia.
Aqui tens: repara. Eu tenho o fogo nas minhas mãos. Entendo-o e trabalho com ele perfeitamente, mas não posso falar dele sem literatura. Compreendo todas as poéticas; poderia falar delas se não mudasse de opinião de cinco em cinco minutos. Não sei. Pode ser que algum dia goste muitíssimo da má poesia, como gosto (como gostamos) hoje com loucura da má música. Incendiarei à noite o Partenon para começar a ergue-lo, de novo, pela manhã, sem nunca o terminar.
Tenho falado nas minhas conferências acerca da Poesia, mas do que não posso falar é da minha poesia. E não é porque seja um inconsciente daquilo que faço. Pelo contrário, se é verdade que sou poeta pela graça de Deus - ou do demónio -, também é verdade que o sou pela graça da técnica e do esforço, e por saber perfeitamente o que é um poema.»
F. G. L.
A presente nota sobre a Poética de Lorca foi ditada pelo próprio a Gerardo Diego e publicada por este na sua Poesia Española - Antologia 1915-1931, Editorial Signo, Madrid, 1932
(in Confronto - antologia de escritores modernos, volume 2º, 1946 - reproduzem-se texto e esclarecimento conforme a ortografia original. Não tem referência do tradutor.)
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