23.11.03

LORCA E A SUA POÉTICA
(De Viva Voz a G. D.)


«Mas que vou eu dizer da Poesia? Que te hei-de dizer de essas nuvens e de esse céu? Olhar, olhar, olhá-las, olhá-lo e nada mais. Compreenderás que um poeta não pode dizer nada acerca da Poesia. Isso é para os críticos e professores. Mas nem tu nem eu, nem nenhum poeta, sabe o que é a Poesia.
Aqui tens: repara. Eu tenho o fogo nas minhas mãos. Entendo-o e trabalho com ele perfeitamente, mas não posso falar dele sem literatura. Compreendo todas as poéticas; poderia falar delas se não mudasse de opinião de cinco em cinco minutos. Não sei. Pode ser que algum dia goste muitíssimo da má poesia, como gosto (como gostamos) hoje com loucura da má música. Incendiarei à noite o Partenon para começar a ergue-lo, de novo, pela manhã, sem nunca o terminar.
Tenho falado nas minhas conferências acerca da Poesia, mas do que não posso falar é da minha poesia. E não é porque seja um inconsciente daquilo que faço. Pelo contrário, se é verdade que sou poeta pela graça de Deus - ou do demónio -, também é verdade que o sou pela graça da técnica e do esforço, e por saber perfeitamente o que é um poema.»

F. G. L.

A presente nota sobre a Poética de Lorca foi ditada pelo próprio a Gerardo Diego e publicada por este na sua Poesia Española - Antologia 1915-1931, Editorial Signo, Madrid, 1932

(in Confronto - antologia de escritores modernos, volume 2º, 1946 - reproduzem-se texto e esclarecimento conforme a ortografia original. Não tem referência do tradutor.)

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