25.9.08

JOSÉ VIALE MOUTINHO

OUTONO
três


não há pessoas nas minhas palavras, no outono
que está ninguém dá dois passos e acena ao sol,
estão todos entretidos com as suas nuvens, com
os ouvidos colados ao chão, querem escutar o medo

e as vozes a tinta da china, os azulejos próprios
dos rostos quando as paisagens são como estas,
tristes e disponíveis, de mãos abertas e sujas,
percorrendo o corpo da terra, dos povoados

onde se ocultam as sombras, as sombras das folhas
e dos frutos, dos efeitos das tempestades, das folhas
de papel e dos versos, as pessoas foram-se embora
logo antes do nascer do dia, cansadas, desejosas

de setembro, de colherem as uvas do silêncio cru,
de fazerem os seus vinhos envenenados, receosas
da ciência que cresce nas grandes encostas como esta,
apetecendo prazeres entre urzes, giestas e silvas,

(de Outono: Entre as Máscaras, edições Afrontamento, 2003)
FERNANDO GUERREIRO

Vento do Sul


Só a febre consegue explicar a insolência
com que erguemos muros diante do que,
no exterior, não recebeu ainda o título
prestigioso de literatura. Um vento seco
então bate no dicionário e encarquilha
as folhas, sem permitir que o pensamento
se estenda pelos baixios que descobre
na paisagem o tempo lento da leitura.
Esquecemo-nos já de como era difícil
inventar uma linguagem de sombras
em que se restabelecesse o rosto
luminoso da literatura? Felizmente
que o mundo se reconstitui
nas pausas do vento, obediente
ao ritmo que lhe vem de longe,
do reflexo cansado da planura.
Nas montanhas, as pastagens
reverdescem abandonadas-
e só os corvos reconhecem
nos esqueletos o vestígio
extinto de uma estranha
forma de poesia.

(de Outono, Black Sun editores, 1998)

23.9.08



Vão ter lugar em Lisboa, nos próximos dias 24 e 25 de Setembro,
duas sessões de apresentação dos mais 3 recentes livros de poesia
de Amadeu Baptista editados pela Cosmorama:


“O Bosque Cintilante”

(Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, 2007),


“Sobre as Imagens”

(Prémio Nacional de Poesia Palavra Ibérica, 2008)


e “Poemas de Caravaggio”

(Prémio Nacional de Poesia Natércia Freire, 2007).


As apresentações estarão a cargo de

Armandina Maia (O Bosque Cintilante),

Inês Ramos (Sobre as Imagens)
e Joana Ruas (Poemas de Caravaggio).



24 de Setembro na Fábrica Braço de Prata, 20.00 horas
25 de Setembro na Fnac Chiado, 18h30