II
Porque estes dedos lambidos na escuridão escrevem o teu nome quando procuro entender a pureza do pão e do barro sobre a mesa, os talheres junto ao sangue, o peso do ar nos pulmões ou o movimento da língua na língua. Estás ao centro, demorada nas minhas noites como o batimento da água interior nas entranhas. Escrevo-te toda, dos filamentos das lâmpadas ao leite morno da manhã. E esta é a obra secreta de quem decifra as profundas raízes do coração, com os joelhos na terra e as mãos na cabeça. E em volta o amor debruçado sobre os pulsos, a entrelaçar o obscuro pavio de uma vida.
(de O Espantador, Apenas livros, 2009 – literatralhas Nobelizáveis)