7.9.13

JOSÉ RICARDO NUNES


ALMEIDA, Francisco António de
(c. 1702-1755)



A água que sobe a Lisboa
e reflui, destruidora, no primeiro de Novembro
de cinquenta e cinco, só me poupa um retrato
cuja legenda comprova ter sido
"bravo compositor de Concertos e de Música de Igreja"
e "um assombro no canto, com inatingível gosto".
Uma surpresa, o teu júbilo com a reedição
exclusiva para o mercado português
de 'La Giuditta', adquirida num centro comercial
por preço acessível depois de muito imaginares
que música eu seria. No booklet enaltecem
a "precisão da escrita" o "domínio
da orquestra", o "tratamento concertante
das vozes", "a inesgotável
inspiração melódica". Tudo mereceu
o resgate de Jacobs, quase
tudo, pois aqui e ali não me interpreta
devidamente. Parece-te poema?
Tinha vinte e quatro anos. Sentia-me na obrigação
de agradecer ao Marquês de Fontes o apoio
da sua Embaixada durante a estadia
em Roma, onde pude aprender,
aperfeiçoar o estilo e pôr-me a par
das novidades. Suposto imaginar
o regresso a Lisboa, a condescendência
do ouro, a Sé, a Capela Real, os Infantes, a súbita
subida na escala das águas?


(de Compositores do Período Barroco, Deriva Editores, 2013)