14.9.07

EGON SCHIELE


Árvore de outono com brincos de princesa, 1909
óleo sobre tela
88,5 x 88,5 cm
Darmstadt, Hessisches Landesmuseum




valter hugo mãe

"árvore de outono com brincos de princesa"

no quadro onde
as árvores adoptam os
filhos

por momentos
onde eu passei a falar
com as folhas sem aprender
a voar sem aprender
a voar ou a bulir as
pressas do vento

onde o que existe no meu passado
se escusa e o que habita os dias
se chama chão e sentado
no frio que vem da luz

por momentos escondo
o peito, terreno onde os
filhos se plantam e se
encheu de ar

onde o quadro é uma mancha clara
que egon não sabe explicar.


(de egon schiele, auto-retrato de dupla encarnação, Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto, 1999 - colecção Explicação das Árvores)

10.9.07

[outros melros XLVII]

[dois melros ou o mesmo?]



EÇA DE QUEIROZ

Jacinto adiante, na égua tarda, murmurava:
- Ah! que beleza!
E eu atrás, no burro, com as pernas bambas, murmurava:
- Ah! que beleza!
Os espertos regatos riam, saltando de rocha em rocha. Finos ramos de arbustos floridos roçavam as nossas faces, com familiaridade e carinho. Muito tempo um melro nos seguiu, de choupo para castanheiro, assobiando os nossos louvores. Serra bem acolhedora e amável... - Ah! que beleza!

(excerto do conto Civilização, publicado pela primeira vez na Gazeta de Notícias, entre 16 e 23 de Outubro de 1892)


Jacinto adiante, na sua égua ruça, murmurava:
- Que beleza!
E eu atrás, no burro de Sancho, murmurava:
- Que beleza!
Frescos ramos roçavam os nossos ombros com familiaridade e carinho. Por trás das sebes, carregadas de amoras, as macieiras estendidas ofereciam as suas maçãs verdes, porque as não tinham maduras. Todos os vidros de uma velha casa, com a sua cruz no topo, refulgiram hospitaleiramente quando nós passámos. Muito tempo um melro nos seguiu, de azinheiro a olmo, assobiando os nossos louvores. Obrigado irmão melro! Ramos de macieira, obrigado! Aqui vimos, aqui vimos! E sempre contigo fiquemos, serra tão acolhedora, serra de fartura e de paz, serra bendita entre as serras!

(excerto de A Cidade e as Serras, publicado pela primeira vez, postumamente, em 1901)