ANTÓNIO RAMOS ROSA
Para Sophia de Mello Breyner Andresen
Vejo-te sempre vertical num apogeu azul
em que celebras as coisas e pronuncias os nomes
com a claridade das cúpulas e das evidências solares
Em ímpetos claros vais figurando o cristal
que dos actos transferes para as palavras límpidas
O ar te deslumbra na sua extrema seda
em ângulos fugitivos Tão perto e tão remoto
o intacto rosto! Não ser? Estar estar
atentamente até que o silêncio seja o cimo
que tudo vai reunindo consagrando no visível
Que possessão d vida que doçura tão forte
te liga a tanto fundo oculto a tanta festa
silenciosa! Tudo se vai definindo em sombra e cor
e as sílabas latentes soletram as evidências
simples e prodigiosas Através delas o espaço
das coisas se identifica ao ser absoluto
Em harmoniosa fluência e na atmosfera límpida
os vocábulos dizem a amizade do universo
Tão inteira tão firme na grande realidade
que se levanta como uma onda e te expõe frente a frente!
Aproximas-te do mar dos montes e das nuvens
e sustentas a atenção pura no número dos teus versos
O teu dom de ser acende-se nas coisas e no verbo
e os volumes vivos unificam-se em assombro
Tua vasta alegria é um ócio resplandecente
que propaga e ondula o ouro maravilhado
Toda te convertes em presságio e fragrância
e a tua vida freme em ti como uma rosa no espaço
És o dia a claridade do dia dominado
e de cimo em declive és o oriente amanhecendo
Frágil é o teu poder? Frágil e perfeitíssimo
num universo em que a criatura encontra o equilíbrio
justo e a delícia da certeza que é o espaço
De súbito as palavras têm um aroma a vento
e modulam as curvas como sinuosas barcas
Insinuam por vezes matizes de palácios
com pátios interiores onde desliza a água
Nada é um sonho por mais leve que seja
porque tudo é um trabalho sobre a madeira do mundo
Que potência cálida e tão certa entre as árvores
que enlaces naturais e que cintilantes cimos!
O teu destino é já música e sortilégio simples
de uma triunfal harmonia tão límpida e tão firme
que é de todos Porque em ti o mundo se redime
e toda a magia é a realidade da palavra
(in Relâmpago nº 9, 10/2001 - número de homenagem a Sophia)
3.7.04
LUÍS FILIPE CASTRO MENDES
O verso de Sophia é como a luz
que cruamente rasga a natureza:
alucina a visão que nos reduz
à imagem tangente da justeza.
O rigor do seu ver torna a verdade
no desenho exterior de um pesadelo:
que a injustiça rói esta cidade
e deserta as palavras sem apelo.
(in Relâmpago nº 9, 10/2001 - número de homenagem a Sophia)
O verso de Sophia é como a luz
que cruamente rasga a natureza:
alucina a visão que nos reduz
à imagem tangente da justeza.
O rigor do seu ver torna a verdade
no desenho exterior de um pesadelo:
que a injustiça rói esta cidade
e deserta as palavras sem apelo.
(in Relâmpago nº 9, 10/2001 - número de homenagem a Sophia)
2.7.04
MANUEL ALEGRE
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Uma atenção tão concentrada que
parece distracção ou mesmo ausência.
Navegação abstracta e a urgência de
conjugar o concreto e a imanência.
Ela colhe no ar a maravilha
depois diz a safira o mar a duna
procura o oriente o azul a ilha
e seu canto a reúne: única e una.
E por isso o seu gesto é como asa
onde há a Koré grega e a grafia
de quem junta os sinais e os sons dispersos.
E o seu poema é quase como casa
e a casa é o outro espaço onde Sophia
reparte à sua mesa o pão e os versos.
(de Sonetos do Obscuro Quê, 1993)
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Uma atenção tão concentrada que
parece distracção ou mesmo ausência.
Navegação abstracta e a urgência de
conjugar o concreto e a imanência.
Ela colhe no ar a maravilha
depois diz a safira o mar a duna
procura o oriente o azul a ilha
e seu canto a reúne: única e una.
E por isso o seu gesto é como asa
onde há a Koré grega e a grafia
de quem junta os sinais e os sons dispersos.
E o seu poema é quase como casa
e a casa é o outro espaço onde Sophia
reparte à sua mesa o pão e os versos.
(de Sonetos do Obscuro Quê, 1993)
JOSÉ CARLOS ARY DOS SANTOS
RETRATO DE SOPHIA
Senhora dona águia água égua
inglesa num jardim de potros gregos
mordiscando beleza rega cega
do regador de inês em seus sossegos.
De muitos anos colhes magro fruito
que depressa transformas em compota
receita tão bem feita de que há muito
nos açucara o travo da chacota.
Porém quando por vezes és de pedra
não mármore mas árvore mas dura
do fundo do teu mar levanta-se a cratera
da nossa lusitana sepultura.
(de Fotos-Grafias, 1970)
RETRATO DE SOPHIA
Senhora dona águia água égua
inglesa num jardim de potros gregos
mordiscando beleza rega cega
do regador de inês em seus sossegos.
De muitos anos colhes magro fruito
que depressa transformas em compota
receita tão bem feita de que há muito
nos açucara o travo da chacota.
Porém quando por vezes és de pedra
não mármore mas árvore mas dura
do fundo do teu mar levanta-se a cratera
da nossa lusitana sepultura.
(de Fotos-Grafias, 1970)
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JORGE DE SENA
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
ENVIANDO-LHE UM EXEMPLAR DE «PEDRA FILOSOFAL»
Filhos e versos, como os dás ao mundo?
Como na praia te conversam sombras de corais?
Como de angústia anoitecer profundo?
Com quem se reparte?
Com quem pode matar-te?
Ou como quem a ti não volta mais?
15/12/1950
(de Peregrinato ad loca infecta, 1969)
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
ENVIANDO-LHE UM EXEMPLAR DE «PEDRA FILOSOFAL»
Filhos e versos, como os dás ao mundo?
Como na praia te conversam sombras de corais?
Como de angústia anoitecer profundo?
Com quem se reparte?
Com quem pode matar-te?
Ou como quem a ti não volta mais?
15/12/1950
(de Peregrinato ad loca infecta, 1969)
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
INSCRIÇÃO
Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto ao mar
(de Livro Sexto, 1962)
INSCRIÇÃO
Quando eu morrer voltarei para buscar
Os instantes que não vivi junto ao mar
(de Livro Sexto, 1962)
Morreu o homem que recusou o Óscar de melhor actor no ano em que eu nasci.
30.6.04
Quem deve estar todo contente é o Alexandre Andrade: a selecção da República Portuguesa venceu três selecções de países monárquicos, afastando agora, aliás, a última que restava.
29.6.04
Afinal o que importa...
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
[isto é uma Nobilíssima Visão de um senhor sem dentes...]
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
[isto é uma Nobilíssima Visão de um senhor sem dentes...]
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