2.7.04

MANUEL ALEGRE

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN


Uma atenção tão concentrada que
parece distracção ou mesmo ausência.
Navegação abstracta e a urgência de
conjugar o concreto e a imanência.

Ela colhe no ar a maravilha
depois diz a safira o mar a duna
procura o oriente o azul a ilha
e seu canto a reúne: única e una.

E por isso o seu gesto é como asa
onde há a Koré grega e a grafia
de quem junta os sinais e os sons dispersos.

E o seu poema é quase como casa
e a casa é o outro espaço onde Sophia
reparte à sua mesa o pão e os versos.

(de Sonetos do Obscuro Quê, 1993)

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