(atribuído a)
TSEHHAS
O GRANDE PREFÁCIO
(Day Dzuy)1. A poesia é fruto duma ideia. A ideia está na alma; quando expressa em palavras, torna-se poesia.
2. Os sentimentos que se agitam na alma, traduzem-se em palavras. Quando a palavra não basta, recorre-se às exclamações. Se nem estas chegam, canta-se; e por fim, instintivamente, encontramo-nos a gesticular e a dançar.
3. As emoções traduzem-se em sons, os quais, combinados com arte, se tornam música. Em tempos em que reina a ordem, as músicas são calmas, com tendência para alegres. O bom governo é harmonia. Se reina a desordem, a música vai de queixosa a impaciente, porque há discórdia no governo. Se um estado vira à ruína, então a música é triste e preocupada, pois o povo está em aflição.
4. Por isso mesmo, para exprimir correctamente os êxitos ou os fracassos da governação, para mover o céu e a terra, e despertar os Espíritos dos Mortos, não há como a poesia.
5.Com ela regulam os antigos Reis as obrigações de maridos e mulheres, inculcam a obediência e reverencia aos filhos, asseguram o respeito de todas as relações sociais, prestigiam a eficácia transformadora da educação e promoveram a civilidade e os bons costumes.
6. É por isso que no Livro dos Cantares há 6 estilos: o da sátira (phoq), do idílio (bhoes), do apólogo (pi), o épico (xheq), o parenético (ngah) e o panegírico (dzõw).
7. Nas sátiras (phoq), os Superiores moralizam os súbditos, e estes satirizam aqueles. O principal nelas é o estilo, em que a censura é habilmente insinuada. Ouve-se sem ofensa; mas isso basta para que o alvejado tenha mais conta consigo. Por isso é que se chma “Phoq”: árias ou virações.
8. Quando os governos entram em decadência, as regras da boa educação e equidade são descuradas e a educação pública torna-se deficiente. Daí regimes diversos nos diversos Estados, e variedade de costumes nas famílias. Isso dá origem a uma alteração no estilo da sátira e da parenese.
9. Os cronistas dos Estados, atentos aos sintomas de êxito ou de fracasso, e pesarosos com a alteração das relações sociais, lamentando os rigores das penas infligidas, exprimiram esses sentimentos em sátiras aos Superiores, com a ideia de mudar o curso das coisas, voltando-se aos bons costumes antigos.
10. Tais sátiras, embora alteradas (pyen phoq), para dar expressão ao sentimento, não saíram dos limites das conveniências. Tal expressão do sentimento é natural ao povo. O facto de ser comedida, deve-se aos Reis antigos.
11. As sátiras referem-se a um Estado e às obrigações dum Soberano.
12. Quando se trata do Império todo, e de morigerar os costumes em geral, entra o estilo parenético (ngah). Parenese quer dizer moralizar. Expõem-se as causas do êxito ou do fracasso da coisa pública. E como na Governação há coisas de maior e de menor importância, daí a distinção entre Parenese Menor e Maior (Siau Ngah e Day Ngah).
13. Os hinos (dzõw) chamam-se assim porque louvam os modelos duma virtude perfeita, levando aos Espíritos dos Antepassados o conhecimento dos seus feitos.
14. Formam os Hinos a IV parte do cancioneiro. Começam os Cantares.
(in
Livro dos Cantares / She Keng, tradução de Joaquim A. Guerra, S. J., Jesuítas Portugueses, 1979)