ALMEIDA FARIA
[...] não desistamos contudo, que a mesma hora é em que nos campos os melros assobiam pelas sebes, gravam cigarras o seu canto contra o poente persistente, luzes se acendem nas casas da encosta e no mar nasce a lua nova, peixes-sapos mergulham na lama mais profunda para que a metamorfose seja oculta, tudo se entrega aos braços nocturnos do terror que cresce atrás de cada porta de cada comprido corredor que meninos percorrem de candeia na mão a seguir ao jantar a caminho do quarto onde só dormem tarde escondidos no lençol cheios do desejo urgente de abraçar um corpo e cada esquina aguarda uma angustia ignorada, [...]
(excerto do III Fragmento de Rumor Branco, 1962)