11.11.05

ANTÓNIO TABUCCHI

«O senhor estudou aqui?», perguntei.
Parou a olhar para mim, e pareceu-me que nos seus olhos passava um relâmpago de nostalgia. «Estudei em Londres e depois especializei-me em Zurique». Tirou do bolso o seu estojo de palha e pegou num cigarro. «Uma especialidade absurda, para a Índia. Sou cardiologista, mas aqui ninguém é doente do coração, só vocês na Europa morrem de enfarte».
«De que se morre aqui?», perguntei eu.
«De tudo o que não tem a ver com o coração. Sífilis, tuberculose, lepra, tifo, septicemia, cólera, meningite, pelagra, difteria e outras coisas. Mas eu gostava de estudar o coração, gostava de perceber aquele músculo que comanda a nossa vida, assim». Fez um gesto com a mão abrindo e fechando o punho. «Talvez eu julgasse que descobriria qualquer coisa lá dentro».

(excerto de Nocturno Indiano, tradução de Maria Emília Marques Mano, Quetzal editores, 1ª ed. de 1984)

9.11.05

[hoje, na Terra, o Tim e o Fernando falam duma ciência ameaçada]

JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA

Furtivos lírios


Contemplava a própria vida
na sorte desses instantes
que tanto se assemelham a furtivos lírios
à chegada da noite
mas dizia: um coração é sempre um pássaro
evadido à censura da penumbra

nenhum sofrimento conseguia desfazer
as muitas exaltações que mantinha
e mesmo à beira do abismo
exibia uma facilidade talvez sem razão


quando a arte das chamas se tornou
nas cidades uma ciência ameaçada
percebemos que há muito nos falava
do interior das florestas


(de Baldios, 1999)

8.11.05

Uma autêntica declaração de amor pela Rádio!
(pelo, agora, director da Rádio Comercial, Pedro Ribeiro)
A propósito dos acontecimentos destes dias em Paris, merece destaque a declaração do presidente da Conferência Episcopal Francesa, reproduzida ontem na Terra da Alegria pelo Zé Filipe.
Coisas que já sabemos, mas que é importante serem repetidas e lembradas.


O híbrido do nome diz tudo, mas vale a pena a especificação: "Contra o cultivo da insensibilidade".

7.11.05

A propósito duma ideia de relaxamento intelectual cito, de memória, um desaforismo de Adília Lopes: "The APE in the SPA / O macaco no ginásio".
(A que se poderia acrescentar: "With a PEN / com uma caneta")