ADÍLIA LOPES
Os peixes brancos
Um dos grandes temas da actualidade
é sem dúvida esta panela de esmalte
cheia de peixes brancos como panos
a cozer ao lume perguntar-me-ão
mas o que é que lhe aconteceu com os peixes brancos?
e eu perguntar-vos-ei
o que é acontecer?
esses peixes brancos aconteceram-me
eu mal olhei para eles
eles nem me viram
julgam que com as pessoas de quem
eu estou sempre a falar me aconteceu
muito mais do que com esses peixes brancos?
realmente aconteceu (os peixes brancos ainda não
me feriram) mas elas devem ter-se
apercebido tanto disso como esses peixes brancos
a minha vida está cheia de
importantíssimos peixes brancos
(não são para mim, são para o meu gato,)
Onde é que eu já a vi
Parece-me que é uma Ana Bela
que conheci há muito e muito tempo
não lhe vou falar lembro-me eu melhor
das outras pessoas do que elas de mim
e não tenho nada para lhe dizer
parece-me daquelas pessoas
que não vão a uma loja para comprar coisas
mas para serem compradas pelas coisas
que será feito da mãe da Ana Bela
estava convencida de que o mais importante
a fazer nesta vida era ser a esposa
de um sócio gerente da fábrica de
impermeáveis Parabellum inquiria
antes de convidar as meninas que a Ana Bela
conhecia o que é que os pais delas faziam
o teu aspira a sala? não faz nada?
o teu é escritor? mas isso dá alguma coisa?
o teu morreu? já não faz nada!
só o pai da Ana Bela fazia
alguma coisa que dava alguma coisa
a Ana Bela é que já deve ter descoberto
que os impermeáveis Parabellum
não fazem a felicidade de toda a gente
(de Um jogo bastante perigoso, edição da Autora, 1985 – um dos 500 exemplares deste livro, o primeiro da Autora, está a leilão num estabelecimento que ultrapassou há pouco a mítica barreira das 11,749 visitas)
30.1.09
29.1.09
EASTWOOD DA SILVA
(de 535 Máximas 535, &etc, 1999)
287. Salvo excepções, só se deve falar de coisas desagradáveis na perspectiva de as resolver, não como assunto de conversa.
(de 535 Máximas 535, &etc, 1999)
28.1.09
CARLOS MOTA DE OLIVEIRA
(excerto de) Estou Assim Uma Obra Feita
Também é verdade
que não meto
dente nenhum meu
em questões
de
Estado
ou em
assuntos
de Defesa
Nacional
e muito
menos
dou com
a língua
nos dentes.
Naturalmente,
olho
por olho
ou dente
por
dente
são
expressões
que
não uso.
E se
luto pouco
com unhas
e
dentes
é porque
já dei
muito ao dente
especialmente
chocolates
e carne picada.
Eu sei que há
dentes de siso
dentes do pente
dentes de velha
dentes de serra
dentes de leite
e até dentes
de
alguma engrenagem
mas o que agora
me interessa
é apenas contemplar
enxaguar
lavar
e escovar
quer
o marfim
quer
o esmalte
quer
o cimento
dos dois
coxos
caninos
que ainda
carrego na boca
e que têm
a
graça
ou
a loucura
de almoçar
comigo
todos
os dias
e até
ao
último ai
(de Este Outono Sobre os Moveis Doirados, edição do Autor, 2005)
(excerto de) Estou Assim Uma Obra Feita
Também é verdade
que não meto
dente nenhum meu
em questões
de
Estado
ou em
assuntos
de Defesa
Nacional
e muito
menos
dou com
a língua
nos dentes.
Naturalmente,
olho
por olho
ou dente
por
dente
são
expressões
que
não uso.
E se
luto pouco
com unhas
e
dentes
é porque
já dei
muito ao dente
especialmente
chocolates
e carne picada.
Eu sei que há
dentes de siso
dentes do pente
dentes de velha
dentes de serra
dentes de leite
e até dentes
de
alguma engrenagem
mas o que agora
me interessa
é apenas contemplar
enxaguar
lavar
e escovar
quer
o marfim
quer
o esmalte
quer
o cimento
dos dois
coxos
caninos
que ainda
carrego na boca
e que têm
a
graça
ou
a loucura
de almoçar
comigo
todos
os dias
e até
ao
último ai
(de Este Outono Sobre os Moveis Doirados, edição do Autor, 2005)
27.1.09
RAUL DE CARVALHO
ESOTERIA
Tenho mais que fazer que reler-me.
Reler-me custa. É pensar prisioneiro.
Nenhuma, cadeia nenhuma serve ao pensamento livre
E a cadeia que em nós pomos na cabeça
é a pior,
é a pior de todas.
Já alguém alguma vez viu no ar um pássaro voando com as suas próprias asas? não, isso é engano.
O pássaro que voa, voa ajudado pelo vento.
E faz de conta
que asas não tem.
O ar o ajuda? Talvez... O ar o ajuda…
Se o pássaro, porém, quiser voar
duas vezes:
não voa, não voa!, com as dele mesmo
asas.
Dele é e não é o voo que lhe pertence.
E irrepetível é o ar que o move.
Dentro de si circula.
(de Um e o Mesmo Livro, 1984)
ESOTERIA
Tenho mais que fazer que reler-me.
Reler-me custa. É pensar prisioneiro.
Nenhuma, cadeia nenhuma serve ao pensamento livre
E a cadeia que em nós pomos na cabeça
é a pior,
é a pior de todas.
Já alguém alguma vez viu no ar um pássaro voando com as suas próprias asas? não, isso é engano.
O pássaro que voa, voa ajudado pelo vento.
E faz de conta
que asas não tem.
O ar o ajuda? Talvez... O ar o ajuda…
Se o pássaro, porém, quiser voar
duas vezes:
não voa, não voa!, com as dele mesmo
asas.
Dele é e não é o voo que lhe pertence.
E irrepetível é o ar que o move.
Dentro de si circula.
(de Um e o Mesmo Livro, 1984)
Adenda ao post anterior:
A antologia
Os dias do Amor Um poema para cada dia do ano
leva a chancela da editora Ministério dos Livros
e será apresentada por Sérgio Godinho,
na próxima quinta-feira na FNAC do C. C. Colombo
Os dias do Amor Um poema para cada dia do ano
leva a chancela da editora Ministério dos Livros
e será apresentada por Sérgio Godinho,
na próxima quinta-feira na FNAC do C. C. Colombo
26.1.09
Já está nas livrarias a antologia
Os dias do Amor Um poema para cada dia do ano,
365 poemas de amor de 365 poetas de todos os tempos e de todos os lugares.
Posso testemunhar que, mais do que uma antologia de poemas de amor, esta é uma antologia que resulta do amor da Inês Ramos pela poesia.
O prefácio é do Henrique Manuel Bento Fialho, o que só por si é um bom sinal.
Como se não bastasse, na primeira apresentação deste livro haverá leitura de poemas por Maria do Céu Guerra, Álvaro Faria, Cristina Paiva, João Brás e Tiago Bensetil.
Será já no próximo dia 29 de Janeiro, na Fnac do Colombo, pelas 18h30m.
Estão agendadas outras apresentações nos seguintes dias e locais:
Porto: El Corte Inglés, 5 de Fevereiro, 19h30m
Viseu: Fnac Palácio do Gelo, 6 de Fevereiro, 21 horas
Faro: Livraria Pátio de Letras, 14 de Fevereiro, 17 horas
Évora: Bibliocafé Intensidez, 14 de Fevereiro, 21h30m
Os dias do Amor Um poema para cada dia do ano,
365 poemas de amor de 365 poetas de todos os tempos e de todos os lugares.
Posso testemunhar que, mais do que uma antologia de poemas de amor, esta é uma antologia que resulta do amor da Inês Ramos pela poesia.
O prefácio é do Henrique Manuel Bento Fialho, o que só por si é um bom sinal.
Como se não bastasse, na primeira apresentação deste livro haverá leitura de poemas por Maria do Céu Guerra, Álvaro Faria, Cristina Paiva, João Brás e Tiago Bensetil.
Será já no próximo dia 29 de Janeiro, na Fnac do Colombo, pelas 18h30m.
Estão agendadas outras apresentações nos seguintes dias e locais:
Porto: El Corte Inglés, 5 de Fevereiro, 19h30m
Viseu: Fnac Palácio do Gelo, 6 de Fevereiro, 21 horas
Faro: Livraria Pátio de Letras, 14 de Fevereiro, 17 horas
Évora: Bibliocafé Intensidez, 14 de Fevereiro, 21h30m
O texto
que valter hugo mãe leu no dia 16
na apresentação de
Para que ninguém sobreviva ao perdão,
de Pedro Gil-Pedro
(Cosmorama edições)
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