«A DOR» (1934), de HEIN SEMKE
De que deus és crente, mulher,
Que versículo te verga, diante
Do mundo, a dignidade? De olhos
Abertos para o chão, de mãos
Firmes sendo apoio do teu próprio
Corpo, mulher, permaneces.
Talvez possas caminhar, talvez
Um dia atravesses (solidão) para
O avesso dessa fé, na evidência
Dessa dor, rasgo que não é caminho. O
Pescoço curvado, a cabeça reduzida
À altura dos ombros,
És menos aqui do que podias ser.
Para que falta de lucidez
Te inclinas assim? Saberias
Melhor da luz noutro corpo.
Ou nesse mesmo, noutra posição,
Noutro jeito de se encontrar, forma
A aproximar-se da alegria. Em que
Sofrimento crês tu, filha
De um outro ventre, como o teu, deste
Bronze de silêncio?