JOAQUIM MANUEL MAGALHÃES
O poema é sempre o texto de um autor, duma
«vida pessoal». Quanta vegetativa elucubração sobre Pessoa teríamos a
possibilidade de não ler e ouvir se se conhecesse melhor a situação do problema
onde Pessoa o foi buscar como problema: à tradição do modernismo
anglo-saxónico. No âmbito da poesia, felizmente, o caso foi rapidamente
ultrapassado, a próprio nível dos modernistas, pela qualidade inescapavelmente
pessoal da obra desses autores. Mas o mesmo não se verificou na tradição
crítica resultante do tipo de leitura que tais posições de tais poetas pareciam
exigir para a sua obra. E hoje um paredão terminológico parece erguer-se
obrigatoriamente ante quem queira entender a poesia do seu tempo e partir desta
questão que nem precisa de ter saída: quem escreve um poema é a problemática
dum autor, o sujeito dum poema é sempre o seu autor seja qual for a retorica
usada para se expressar, e esse autor é a totalidade desse discurso. O sujeito
dum poema é a globalidade do poema que é a pessoa do seu autor.
(excerto de uma nota de rodapé a «Philip Larkin, um poeta da tristeza e da
aceitação», posfácio a Uma Antologia, de PHILIP LARKIN, com tradução de Maria
Teresa Guerreiro, Fora do Texto, 1989)