3.11.17

JOAQUIM MANUEL MAGALHÃES


O poema é sempre o texto de um autor, duma «vida pessoal». Quanta vegetativa elucubração sobre Pessoa teríamos a possibilidade de não ler e ouvir se se conhecesse melhor a situação do problema onde Pessoa o foi buscar como problema: à tradição do modernismo anglo-saxónico. No âmbito da poesia, felizmente, o caso foi rapidamente ultrapassado, a próprio nível dos modernistas, pela qualidade inescapavelmente pessoal da obra desses autores. Mas o mesmo não se verificou na tradição crítica resultante do tipo de leitura que tais posições de tais poetas pareciam exigir para a sua obra. E hoje um paredão terminológico parece erguer-se obrigatoriamente ante quem queira entender a poesia do seu tempo e partir desta questão que nem precisa de ter saída: quem escreve um poema é a problemática dum autor, o sujeito dum poema é sempre o seu autor seja qual for a retorica usada para se expressar, e esse autor é a totalidade desse discurso. O sujeito dum poema é a globalidade do poema que é a pessoa do seu autor.


(excerto de uma nota de rodapé a «Philip Larkin, um poeta da tristeza e da aceitação», posfácio a Uma Antologia, de PHILIP LARKIN, com tradução de Maria Teresa Guerreiro, Fora do Texto, 1989)

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