É urgente, nestas autárquicas, fazer o levantamento de frases de campanha que utilizam as palavras amor, coração e o verbo amar.
23.9.05
AMADEU LOPES SABINO
(excerto de Os Relicários, in O Retrato de Rubens, publicações Dom Quixote, 1985)
- Não busco adeptos - retorquiu Laureano após um silêncio. - E o proselitismo é algo que intelectualmente me repugna. Sim, entendo o artista, sobretudo o pintor, como um legislador, em certa medida, até, como um artífice de normas por via ditatorial. A criação artística não é um fenómeno colectivo mas solitário. Por isso a democracia não me parece possível na criação artística. É colectivamente que os comerciantes negoceiam, os sacerdotes rezam, os médicos curam e as prostitutas se oferecem. Desconfio contudo das associações de artistas. E sempre considerei as obras a duas mãos meros divertimentos pueris.
(excerto de Os Relicários, in O Retrato de Rubens, publicações Dom Quixote, 1985)
20.9.05
ÀLEX SUSANNA
NOCTURNO
Na sombra qualquer passo significa.
Fecha-te e escuta:
verás surgir na obscuridade
as brasas da memória,
a gotejar de um deserto,
o cheiro húmido.
Fecha-te e escuta
e não esperes nada,
tudo te será dado:
na sombra os triunfos
contam-se por clarões,
e o clarão basta
no fundo do coração
para chegar a compreender.
(de Palácio de Inverno, 1987, in Os Anéis do Tempo, tradução de Egito Gonçalves, Limiar, 1995 - os olhos e a memória)
NOCTURNO
Na sombra qualquer passo significa.
Fecha-te e escuta:
verás surgir na obscuridade
as brasas da memória,
a gotejar de um deserto,
o cheiro húmido.
Fecha-te e escuta
e não esperes nada,
tudo te será dado:
na sombra os triunfos
contam-se por clarões,
e o clarão basta
no fundo do coração
para chegar a compreender.
(de Palácio de Inverno, 1987, in Os Anéis do Tempo, tradução de Egito Gonçalves, Limiar, 1995 - os olhos e a memória)
18.9.05
ALBERTO DE LACERDA
ON HEARING MARIANNE MOORE
READING HER POETRY
Um pássaro Uma voz atravessada
Pelas nuvens da eternidade
Um pássaro Princesa
Suave dos animais estranhos
Das rochas dos límpidos encontros
Dama do esplendor consistente
Bronze preso à vida por um fio
gieseking Scarlatti
Marianne Moore
(da sequência Mecânica Celeste, in Oferenda II, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1994)
ON HEARING MARIANNE MOORE
READING HER POETRY
Um pássaro Uma voz atravessada
Pelas nuvens da eternidade
Um pássaro Princesa
Suave dos animais estranhos
Das rochas dos límpidos encontros
Dama do esplendor consistente
Bronze preso à vida por um fio
gieseking Scarlatti
Marianne Moore
Austin,
2 de Maio de 1968
2 de Maio de 1968
(da sequência Mecânica Celeste, in Oferenda II, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1994)
MARIANNE MOORE
PARA UMA AVE DE PRESA
Convéns-me, pois nem sequer te tomo a sério,
e não ficas cega pela palha que rodopia
ao ser trazida de uma meda pelos ventos.
Sabes pensar e o que pensas dizes
com muito do orgulho e fria firmeza
de Sansão, e ninguém ousa deter-te.
O orgulho assenta-te bem, tão empertigada, ave colossal.
Nenhuma capoeira te faz parecer absurda;
às tuas garras atrevidas são fortes, contra a derrota.
(de Poemas de Marianne Moore e Elisabeth Bishop, tradução de Maria de Lourdes Guimarães, Campo das Letras - colecção o aprendiz de feiticeiro)
PARA UMA AVE DE PRESA
Convéns-me, pois nem sequer te tomo a sério,
e não ficas cega pela palha que rodopia
ao ser trazida de uma meda pelos ventos.
Sabes pensar e o que pensas dizes
com muito do orgulho e fria firmeza
de Sansão, e ninguém ousa deter-te.
O orgulho assenta-te bem, tão empertigada, ave colossal.
Nenhuma capoeira te faz parecer absurda;
às tuas garras atrevidas são fortes, contra a derrota.
(de Poemas de Marianne Moore e Elisabeth Bishop, tradução de Maria de Lourdes Guimarães, Campo das Letras - colecção o aprendiz de feiticeiro)
ALBERTO DE LACERDA
ELEGIA ESCRITA EM NEW ORLEANS
A 6 DE ABRIL DE 1968
Hoje não estamos sós
Há cinco músicos negros tocando na noite
Hoje não estamos sós
Há um luar negro cobrindo a sucessão
Das ondas incompreensíveis
Mar de luto
Ó mar americano
De luto
Hoje não estamos sós
Há uma canção espessa
(Espessa como o sangue)
Redimindo a noite
Há cinco músicos negros
Há uma cantora negra
Sozinha na noite
No meio de nós
Hoje não estamos sós
Há cinco músicos negros tocando na noite
Irmãos da noite
Minha irmã
Meus irmãos
(da sequência Mecânica Celeste, in Oferenda II, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1994)
ELEGIA ESCRITA EM NEW ORLEANS
A 6 DE ABRIL DE 1968
A todos os negros assassinados
Humilhados e ofendidos
Humilhados e ofendidos
Hoje não estamos sós
Há cinco músicos negros tocando na noite
Hoje não estamos sós
Há um luar negro cobrindo a sucessão
Das ondas incompreensíveis
Mar de luto
Ó mar americano
De luto
Hoje não estamos sós
Há uma canção espessa
(Espessa como o sangue)
Redimindo a noite
Há cinco músicos negros
Há uma cantora negra
Sozinha na noite
No meio de nós
Hoje não estamos sós
Há cinco músicos negros tocando na noite
Irmãos da noite
Minha irmã
Meus irmãos
(da sequência Mecânica Celeste, in Oferenda II, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1994)
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