13.6.05

[outros melros XXVI - em jeito de epitáfio]

EUGÉNIO DE ANDRADE

ELOGIO DA NEVE

As primeiras palavras trazem ao espaço
da página a neve e o melro:
o melro azul
canta nos ramos da neve.
Talvez o tenha ouvido cantar
em sonhos, ou num poema qualquer,
mas ia jurar
que foi no castanheiro do quintal.
Não faz nenhum sentido,
mas às vezes o absurdo entra-nos
pela porta. O melro
cantava na neve - era verão.

(de Ofício de Paciência, 1994)

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