7.7.12

JOÃO RUI DE SOUSA


FRAGMENTOS PARA DEBUSSY
Evocando o Prélude
à l'après-midi d'un faune

Cíclica vertigem
aquecida ao rubro do teu canto
- espero e invoco.

Sinais de búzios,
compassados ecos,
completos sempre
em vegetal memória.

Esperar? Exacto
- que há sempre mais e mais
na voz da água pura.

Pedir? Também
- que é sempre cheia e grave
a face que escolheste.

Querer mais? Muito mais?
Não sei. Fértil e exacto
o que me dão, nada mais me cabe.

*

Se invoco um nome grato
é porque, à luz com que eu encontro
a claridade em castos olhos,
invoco, julgo, um nome com o meu sangue.

Se invoco um nome afável
- guitarra        harpa
                               astro puro        areia -
é porque sei ou sinto
que é aí - está aí -
a paisagem que me abrange.

*

De novo surges
como névoa ao sol da vida,
estrídulo arco,
como um papel branquíssimo
sobre a areia.

De novo surges...

*

Singelo e ao vento, persigo-te
(nos ramos, na flor, na aragem)
até encontrar a oculta voz,
o espírito puro
com que tudo se move e dilui
- para beijá-lo.


(de Circulação, 1960)



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