ANTÓNIO DACOSTA
ARTUR GOULART
Pequena serenata eborense para Dacosta
(em três andamentos)
I
Chegou notícia da tua morte.
Morte aparente a tua, António,
fingida sem fingimento,
que de verdade se faz a tua estrada,
ausente, mas presente
como há muito tempo
em Paris, em Évora ou onde te escondes,
longe da ilha, mas na ilha sempre.
II - Uma romana em Évora
Lento se arrasta o espectro da cidade
- Liberalitas Julia dizem -
Caem encantados os últimos sons da tarde
Dorido corre o sonho feito grito e cor.
Romana em Évora branca compostura
Parede-pano-planície lavada em sol
Inviolado passado marítima candura.
III - Está calor em Évora!
Gémeas esperanças de branco e de ternura
no apetecível espelho sobrevive
longa trança de azulejos.
Está calor em Évora!
Sente-se o sol redondo absoluto
no dourado recinto esvoaçam
incontidos os desejos.
Está calor em Évora!
Arde violenta a pedra
a sombra entorpece sonolenta o cio
da terra em fresco desabafo
apenas as fontes e as palavras...
Está calor em Évora!
Está calor em Évora, 1983
acrílico sobre tela
146 x 114 cm
ARTUR GOULART
Pequena serenata eborense para Dacosta
(em três andamentos)
I
Chegou notícia da tua morte.
Morte aparente a tua, António,
fingida sem fingimento,
que de verdade se faz a tua estrada,
ausente, mas presente
como há muito tempo
em Paris, em Évora ou onde te escondes,
longe da ilha, mas na ilha sempre.
II - Uma romana em Évora
Lento se arrasta o espectro da cidade
- Liberalitas Julia dizem -
Caem encantados os últimos sons da tarde
Dorido corre o sonho feito grito e cor.
Romana em Évora branca compostura
Parede-pano-planície lavada em sol
Inviolado passado marítima candura.
III - Está calor em Évora!
Gémeas esperanças de branco e de ternura
no apetecível espelho sobrevive
longa trança de azulejos.
Está calor em Évora!
Sente-se o sol redondo absoluto
no dourado recinto esvoaçam
incontidos os desejos.
Está calor em Évora!
Arde violenta a pedra
a sombra entorpece sonolenta o cio
da terra em fresco desabafo
apenas as fontes e as palavras...
Está calor em Évora!
Dezembro 1990
(de No fio das palavras, Santa Casa da Misericórdia da Vila das Velas, 2010)
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