9.5.12

ANTÓNIO DACOSTA


Está calor em Évora, 1983
acrílico sobre tela
146 x 114 cm


ARTUR GOULART


Pequena serenata eborense para Dacosta
(em três andamentos)

I

Chegou notícia da tua morte.
Morte aparente a tua, António,
fingida sem fingimento,
que de verdade se faz a tua estrada,
ausente, mas presente
como há muito tempo
em Paris, em Évora ou onde te escondes,
longe da ilha, mas na ilha sempre.


II - Uma romana em Évora

Lento se arrasta o espectro da cidade
- Liberalitas Julia dizem -
Caem encantados os últimos sons da tarde
Dorido corre o sonho feito grito e cor.
Romana em Évora branca compostura
Parede-pano-planície lavada em sol
Inviolado passado marítima candura.


III - Está calor em Évora!

Gémeas esperanças de branco e de ternura
no apetecível espelho sobrevive
longa trança de azulejos.

Está calor em Évora!

Sente-se o sol redondo absoluto
no dourado recinto esvoaçam
incontidos os desejos.

Está calor em Évora!

Arde violenta a pedra
a sombra entorpece sonolenta o cio
da terra em fresco desabafo
apenas as fontes e as palavras...

Está calor em Évora!

Dezembro 1990

(de No fio das palavras, Santa Casa da Misericórdia da Vila das Velas, 2010)



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