19.8.09

(Furna do Enxofre, Ilha Terceira - Agosto de 2009)


JOÃO MIGUEL FERNANDES JORGE

A FURNA DO ENXOFRE


A primeira coisa que se conhece é uma longa
escadaria que leva à espessura, a um velório
de vegetação sombria. Ergue-se por entre a
rocha que ladeia os degraus, até ao momento
em que mergulha na golpeada ressonância da
caverna. Não há corpos projectados pelo
fogo, apenas o enxofre se consome e a furna
se transforma num pequeno altar de lama que
sustenta extrema temperatura. Ninguém nomeia
a asa de um morcego e o rasgão de luz
desce a altíssima gruta para que possamos
atribuir uma forma aos objectos reais: a
laguna onde o pequeno barco aguarda a voz da
sombra que se desdobra em múltiplos ecos:
fantasmas, coisas vãs que ficaram fora do
coração da ilha: no líquido exílio, sob a
ilha, está um campo subterrado, bolsa imensa
que sustém a própria ilha: e os olhos vindos
das trevas regressam à plácida luz, como
quem ressuscita, numa súplica, a tristeza das
_______________________coisas.

(de Bellis Azorica, Relógio d’Água editores, 1999)

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