28.2.12


PAUL ÉLUARD


«A POESIA DEVE TER COMO FIM A VERDADE PRÁTICA»

Aos meus amigos exigentes

Se vos digo que o sol na floresta
É como um ventre que se entrega num leito
Acreditais e aprovais os meus desejos

Se vos digo que o cristal de um dia de chuva
Continua a soar na languidez do amor
Acreditais e alongais o tempo-amor

Se vos digo que nas ramagens do meu leito
Faz ninho um pássaro que jamais diz sim
Acreditais compartilhais minha inquietação

Se vos digo que no golfo de uma fonte
Gira a chave de um rio entreaberto o verde
Acreditais-me e mais compreendeis-me.

Mas quando canto sem rodeios a minha rua
E meu país como rua sem fim
Já não me acreditais e partis p'ra o deserto

Pois caminhais sem alvo sem saberdes que os homens
Precisam estar unidos e ter esperança e lutar
P'ra explicar o mundo e para o transformar

Com uma só batida do coração vos levo
Estou fatigado vivi e vivo ainda
Mas espanto-me de falar p'ra vosso agrado
Quando vos queria libertar p'ra vos unir
Não só à alga e ao junco da aurora
Mas aos nossos irmãos que constroem a luz.


(in Poemas Políticos, tradução de Carlos Grifo, editorial Presença, 1973)

Sem comentários: