29.7.14

LUÍS PEDROSO


NO PASA NADA

Não se passa nada,
como se cinco minutos depois do pequeno-almoço
tivesse entrado humidade para dentro da clepsidra
e eu saísse apavorado de uma biblioteca,
alegando silêncio em excesso

Desperdiço as minhas tardes na hemeroteca,
no arquivo fotográfico, à procura das minhas ruas,
dos becos e baldios abandonados,
pedregulhos sobre os auxiliares de memória,
e a partir de agora estar vivo é um estrangeirismo

Não se passa nada,
e o poema é um fragmento, um avolumar de palavras.
Penso na dignidade de não ter nada
e saio à rua limpo, radiante de ignorância


(de Romance ou Falência, artefacto, 2014)

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