1.7.03

MÁRIO CLÁUDIO
«Descemos desamparados, pois Mário Cláudio teve o cuidado de retirar todos os andaimes» - Eduardo Lourenço

Nasceu no Porto em 1941. Tem livros editados desde 1969. Duas entrevistas recentes: uma com Ana Sousa Dias na RTP2 e outra com Miguel Sousa Tavares na Revista Ler deste Verão.

Acerca de “Um Verão Assim” diz Jorge de Sena: «Há uma contida violência nesta obra, que não tem nada de invisível, e que transparece no fluir das linhas dela, como um impulso constante, no próprio jogo de uma serenidade ambígua. Creio que Baudelaire, se fosse vivo, e não apenas o glorioso clássico desta linhagem, gostaria muito de a ler.»

Notícias do Advento V
passas despercebida do amor do sono dos sonhos que não te conheço porque os esqueces sempre porisso acreditas que nunca sonhaste; agora a diligência que punhas no teunosso corpo arrumou-se com a mala com que viemos do sul um corpo inventa-se nunca renasce das cinzas em que o mergulhou o olhar mais atento; pode porém procurar-se um corpo quando dorme a si próprio se ignora no voo do seu torpor; nestes meses que constroem o advento do filho acordo debruçado sobre ti a mão direita dormente sob tua nuca investigo a ruga que te atravessa a testa digo-te tudo quase nada durmo outro sono contra ti entre o desejo que é o único filho meu o medo de te despertar sem sentido;

[princípio do “Capítulo Terceiro” de Um Verão Assim, 1974]

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