20.7.03

POESIA CHINESA (III)

YAO JINGMING

Nasceu em Pequim, em 1958.
Tem um mestrado em Literatura Portuguesa e é professor assistente da Universidade de Macau.
Já traduziu para chinês muitos poetas portugueses e co-organizou, em 1999, a Antologia de Poetas de Macau.

NÃO ME ACORDES

A noite deita-se comigo
na fenda do tempo

Os dedos do luar
penteando os cabelos do sonho

Oh, meu amor
podes passar pelo meu sonho
podes ficar no meu sonho
mas não me acordes

NA MINHA PÁTRIA

Na minha pátria
a porcelana tem dez mil formas
mas qualquer delas é tão frágil
como a incurável ferida

Na minha pátria
todas as sedas são pele de água
tecida pela morte do bicho da seda
no inumerável cair das folhas

Na minha pátria
quase todos têm ao peito um bule de chá
mas o chá tão milenar
mesmo em gesto de alquimia
nunca torna o tempo num reino tranquilo

A NOITE ACORDA DIFERENTE

A noite acorda diferente
na gramática da brisa

As pupilas suportam
a solidão solar

Com o vocabulário dos dedos
a mão fala com o vagar do ar

Seguro na estância tão clara
o corpo abre a porta mais serena

(in Poesia em Lisboa 2000, Casa Fernando Pessoa e P.E.N. Clube Português, 2000 - Tradução do Autor)

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