15.3.04

[outros melros XV]

TONINO GUERRA

CANTO DÉCIMO OITAVO


Quando o melro de Pídio, o sapateiro,
fugiu da gaiola, nós o esperávamos
no pátio e cada sombra que passava
parecia ele. E no entanto não era.

Até que uma tarde, na sebe de canas,
qualquer coisa negra baloiçava
mirando-nos com uns olhitos que pareciam pontas de navalha.
Então afastámo-nos da janela
e fingimos deslocar nossas cadeiras.

(de O Mel, tradução de Mário Rui de Oliveira, Assírio & Alvim, 2003 - documenta poetica)

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