8.2.05

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Vi certa menina
Com seus caracóis,
Catando os lençóis
Ao Rei Salomão.
O pai Maranhão
Com todo o capricho
Foi matar o bicho
Ao Cais-do-Sodré.
Muito pontapé
Levou o rapaz
Que traz no cabaz
Palha de tabúa;
Passeiam p'la rua
Peraltas aos centos
Engolindo ventos
Em lugar d'almoço.
Namora o meu moço
Aquela menina
Que mora à esquina
Do Arco-do-Cego.
Aquêle galego
Que vende melões
Rompeu os calções
Com vento do sul.
Aquêle taful
Comendo ròsbife;
Passear de esquife
É grande descôco!
Escôvas de côco
São convenientes
P'ra limpar os dentes
De quem tem ramela;
Caldo da panela
É bom alimento,
Se lhe dá o vento
Não cai de maduro.
Lá no Val-Escuro
Quebrei o nariz;
Isso não se diz
Deante de gente;
Ó senhor Vicente
Não mangue comigo;
Lá dei no umbigo
Uma canelada;
Está gente parada
Por essas travessas,
Sentada em tripeças
Tocando zabumba.
Zumba, catatumba
Zás traz catrapaz.
Os canos de gás
Cheram muito a pez;
O porco montês
Tem grande focinho;
Quem não bebe vinho
Mal sabe o que vai;
Rapazes sem pai
Ficam malcriados;
Seis vinténs safados,
Ninguém os aceita;
É boa receita
Para quebraduras
Pôr-se ligaduras
De teia de aranha.
Espanhóis, de Espanha,
Franceses, de França
Armam contradança
Lá nos Pirineus.
Pois então... Adeus,
Findou a cantiga
Da tal rapariga
Com seus caracóis.

(transcrito por Guilherme Felgueiras no artigo Anfíguris Populares, in Portvcale nº 43 - Janeiro-Fevereiro de 1935)

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