Cardeal CARLO MARIA MARTINI
A Beleza crucificada: Sexta-feira Santa e o hoje da dor do homem
A Cruz é revelação da Trindade na hora da “entrega” e do abandono: o Pai é Aquele que entrega o Filho à morte, por nós; o Filho é Aquele que Se entrega por nosso amor; o Espírito é o Consolador no abandono, entregue pelo Filho ao Pai, na hora da Cruz (“E inclinando a cabeça, entregou o Espírito”: Jo 19, 30; cf. Hb 9, 14) e pelo Pai ao Filho, na ressurreição (cf. Rm 1, 4). Na Cruz, a dor e a morte entram em Deus por amor dos sem Deus: o sofrimento divino, a morte em Deus, a debilidade do Omnipotente são outras tantas revelações do seu amor pelos homens. É este amor incrível e ao mesmo tempo suave e atraente que nos envolve e fascina, exprimindo a verdadeira Beleza que salva. Este amor é fogo devorador, ao qual só se pode resistir por uma incredulidade obstinada ou por uma recusa persistente em nos colocarmos em silêncio frente ao seu mistério, ou seja, pela rejeição “da dimensão contemplativa da vida”.
É verdade que o Deus cristão não dá, deste modo, uma resposta teórica à interrogação sobre o porquê da dor do mundo. Ele oferece-Se, simplesmente, como “guardião”, como “seio” dessa dor, o Deus que não deixa que se perca nenhuma lágrima dos seus filhos, porque as faz suas. É um Deus próximo, que precisamente na proximidade revela o seu amor misericordioso e a sua ternura fiel. Convida-nos a entrar no coração do Filho, que se abandona ao Pai, e a sentir-nos, assim dentro do próprio mistério da Trindade.
O Filho é o grande companheiro do sofrimento humano, Aquele que nos é dado reconhecer em todos os sofrimentos, sobretudo naqueles aos quais chamamos “inocentes”. O rosto “frente ao qual todos cobrem o rosto” (Is 53, 3), revela-se-nos como um rosto belo, aquele que Madre Teresa de Calcutá contemplava com ternura nos seus pobres e nos moribundos.
(de Que beleza salvará o mundo?, edições Paulinas, 1999)
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