23.6.04

[para uma não-justificação da minha ausência temporária]

LEOPOLDO PANERO

Para inventar Deus, nossa palavra
busca, dentro do peito,
sua própria semelhança e não a encontra,
como as ondas do tranquilo mar,
uma após outra, iguais,
querem a exactidão do infinito
medir, enquanto cantam...
E Seu nome sem letras,
escrito a cada instante pela espuma,
some-se a cada instante
embalado pela música da água;
e nas praias fica só um eco.

Que número infinito
nos conta o coração?
Cada latejo,
outra vez é mais doce, e outra, e outra;
outra vez cegamente e de seu íntimo
vai pronunciar Seu nome.
E outra vez se ensombra o pensamento,
e a voz não o encontra.
Dentro do peito está.
Teus filhos somos,
ainda que não saibamos nunca
dizer-te a palavra exacta e Tua,
que repete na alma o doce e firme
girar das estrelas.

(tradução de José Bento, in Antologia da Poesia Espanhola Contemporânea, Assírio & Alvim, 1985 - documenta poetica)

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