ANTÓNIO OSÓRIO
LXXIV: O POETA É UM PINTOR CEGO
(MIGUEL ÂNGELO)
Cego de palavras.
Intempéries, da verdade.
Chuva
futura, manancial
de nuvens.
Palavras ígneas:
acendalha, carqueja,
lava impreterível.
Ou constrangidas:
pureza, embalsamar o tempo,
amor desdobrável.
Palavras desgraçadas:
orfanato, coval, magarefe
untuoso de sangue.
Ou felizes:
filodendro, verdelha, cordeiro
dormindo no dorso de sua mãe.
Palavras proibidas:
absoluto, garganta
do rio, vidente do insolúvel.
E outras cegas palavras:
a imunidade
(orgulhosa) do suplicante.
O resgate - ilacerável, imenso.
(de Décima Aurora, 1982)
Já faltou mais.
Há 2 horas
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