20.8.05

[um contributo para o Abrupto: provavelmente o mais antigo "early morning poem" da língua portuguesa]

D. DINIS

CANTIGA D'AMIGO


Levantou-s' a velida
levantou-s' alva
e vai lavar camisas
eno alto:
vai-las lavar alva.

Levantou-s' a louçana
levantou-s' alva
e vai lavar delgadas
eno alto:
vai-las lavar alva.

(E) vai lavar camisas,
levantou-s' alva;
o vento lhas desvia
eno alto:
vai-las lavar alva.

E vai lavar delgadas,
levantou-s' alva;
o vento lhas levava
eno alto:
vai-las lavar alva.

O vento lh'as desvia;
levantou-s' alva;
meteu-s' alva en ira
eno alto:
vai-las lavar alva.

O vento lh'as levava;
levantou-s' alva;
meteu-s' alva en sanha
eno alto:
vai-las lavar alva.



CANTIGA DE AMIGO

Levantou-se a bela;
rompe a alvorada;
vai lavar camisas
no rio:
lava-as, de alvorada.

Levantou-se a alva;
rompe a alvorada:
alvas roupas lava
no rio:
lava-as, de alvorada.

Vai lavar camisas;
rompe a alvorada;
o vento as desvia
no rio:
lava-as, de alvorada.

Alvas roupas lava;
rompe a alvorada;
o vento as levava
no rio:
lava-as, de alvorada.

O vento as desvia;
rompe a alvorada;
fica a alva em ira
no rio:
lava-as, de alvorada.

O vento as levava;
rompe a alvorada;
fica a alva irada
no rio:
lava-as, de alvorada.

(fixação do texto e actualização de Natália Correia, incluída em Cantares dos Trovadores Galego-Portugueses, 3ª ed: editorial Estampa, 1998 - tem uma interessantíssima Introdução, também de Natália Correia. A 1ª edição é de 1970, pela mesma editora.)

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