19.3.06

ROBINSON JEFFERS

O FALCÃO CRUEL


Contemplar seria santa vida,
mantida a sério só
as órbitas de um crânio deserto
bebendo o sol,
demasiado intenso para a carne, apenas
exultações de secos ossos;
E a pura acção seria santa vida, se subtil
entre a goela e a navalha.
O homem que soubesse a morte de cor
é o homem para tal vida.
Em feliz paz, em segurança
quão de súbito a alma no homem começa a morrer.
E ele erguerá os olhos para lá do boi no estábulo,
invejando o cruel falcão,
e sob a palha procurará a pedra
com que magoar-se.

(trad. de Jorge de Sena, in Perspectivas dos Estados Unidos - as artes e as letras, Portugália editora, s. d. - Antologias Universais)

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