10.8.06

ROSA ALICE BRANCO

DISSONÂNCIAS


O olhar não vê, se visse
da folha o mínimo detalhe era seiva e mão que acaricia
entre inúmeros corpos invisíveis
como dentes de água

o olhar não vê
por isso sou nome de árvore ou nome vegetal
na violência com que me olhas
de um centro vazio
ou do rubor imaculado da sombra
mas é com essa distância
que me aproximo das coisas
envoltas numa respiração verde

se visse, o olhar seria a perfeição
do imperfeito e doce
como vir do extremo de mim mesma
ou de uma linha que se estenda perto
e a harmonia fosse esse desajuste
que só se vê por dentro
olhos que se cerram contra os olhos
sem exterior.

(de Monadologia Breve, 1991)

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