ROSA ALICE BRANCO
DISSONÂNCIAS
O olhar não vê, se visse
da folha o mínimo detalhe era seiva e mão que acaricia
entre inúmeros corpos invisíveis
como dentes de água
o olhar não vê
por isso sou nome de árvore ou nome vegetal
na violência com que me olhas
de um centro vazio
ou do rubor imaculado da sombra
mas é com essa distância
que me aproximo das coisas
envoltas numa respiração verde
se visse, o olhar seria a perfeição
do imperfeito e doce
como vir do extremo de mim mesma
ou de uma linha que se estenda perto
e a harmonia fosse esse desajuste
que só se vê por dentro
olhos que se cerram contra os olhos
sem exterior.
(de Monadologia Breve, 1991)
POEMS FROM THE PORTUGUESE
Há 2 horas
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