AL BERTO
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borboletas filiformes sobrevoam estes regatos tardios
escondem-se nos torrões da terra lavrada e desovam
plátanos espalham folhas semelhantes a complicados mapas topográficos
mais além
um acampamento cigano
caminho para a noite mas não tenho frio
é só o início dum provável outono
o acampamento recorta-se em contraluz
quando agressivos insectos trabalham recantos nómadas da memória
os ciganos possuem a sabedoria dos fogos acesos ao entardecer
quem poderá afirmar que um deles
o mais jovem
não aprende o mistério das cartas?
ou a mágica vida das linhas da mão?
a essa hora transmite-se de pai para filho
a arte dos insuspeitos ofícios do coração
as casas surgem de repente iluminadas por dentro
a paisagem envolveu-se de solidão
pressinto a força perfumada da terra subindo
ao medo da recente noite
(de TRABALHOS DO OLHAR, 1979/82, in O Medo, Assírio & Alvim, 1997)
[«vocês precisam é de Saramago... muito»
aconselho a audição de um singular documento disponibilizado por PCD no blog da Frenesi, que também aconselho]
POEMS FROM THE PORTUGUESE
Há 2 horas
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