DAVID MOURÃO-FERREIRA
EQUINÓCIO
Chega-se a este ponto em que se fica à espera
Em que apetece um ombro o pano de um teatro
um passeio de noite a sós de bicicleta
o riso que ninguém reteve num retrato
Folheia-se num bar o horário da Morte
Encomenda-se um gim enquanto ela não chega
Loucura foi não ter incendiado o bosque
Já não sei em que mês se deu aquela cena
Chega-se a este ponto Arrepiar caminho
Soletrar no passado a imagem do futuro
Abrir uma janela Acender o cachimbo
para deixar no mundo uma herança de fumo
Rola mais um trovão Chega-se a este ponto
em que apetece um ombro e nos pedem um sabre
Em que a rota do Sol é a roda do sono
Chega-se a este ponto em que a gente não sabe
(de Do Tempo ao Coração, 1966)
Ladainha dos póstumos Natais
Há 1 hora
15 comentários:
Sempre bom encontrar DMF por aqui.
encontrar aqui David Mourão-Ferreira é sublime.
mas queria encontrar algo teu publicado por aí...
um abraço e é sempre um prazer passar aqui por este cantinho onde o bom gosto continua presente nas tuas escolhas
lena
a questão nunca é a do bom gosto, que me perdoe, senhora lena. na poesia a questão nunca poderá ser a do bom senso e do bom gosto. isso, espero, já foi resolvido no século dezanove. a questão é o quanto pode fulminar um homem que lê. é isso que vejo aqui.
os poemas de mau gosto , insensatos, conseguem ser tão mais sublimes.
grrr.... desculpe, mas a expressão 'escolhas de bom gosto' deixaram-me um tantinho aborrecida. ehehe como é que podem ver aqui escolhas de bom gosto??
hoje vou escolher um poema que combine com os meus sapatos, mala e cinto. :') (é a mesma coisa quando um jovem casal escolhe um quadro que dê com a mobília... nhec)
(estou a ser mazinha. mas hoje estou muito faladora. desculpem todos. estou relampista. vou-me calar. quanto ao poema: é fenomenal, de péssimo gosto , e assim é que gosto ;))
ena... uma coisa parecida com uma polémica aqui no estaminé... hehehe
é uma questiúncula de menina aborrecida. a senhora lena, dos olhos em destaque, não vai responder. quanto aposta?
a mim tanto faz... apenas distribuo.
mas gosto q venham aqui dizer coisas.
e concordo q isto da poesia não é uma questão de bom ou mau gosto, mas antes uma questão de fulminar ou não.
e nós gostamos muito da tua distribuição, sem que com isto signifique uma questão de gosto.
uma óptima tarde ao sol, porque tudo o resto é literatura. :)
vim ver se já tinha algo mais distribuído por ti
mas reli e fulminou!
obrigado pelos bons momentos de literatura
o bom gosto fica para a ana
um abraço meu amigo
lena
e hoje não há um poema sobre música?
os traseuntes desta rua ficariam contentes.
Teu blog é uma delícia. Eu te convido a conhecer o blog que inicio agora com uma amiga "Cinco Espinhos", no qual nos propusemos a expor críticas em forma de literatura. Confira!
O bom gosto é fulminação, quando nos morde o que lemos. O resto são "vaidades irritadas e irritantes" que parece que não foram resolvidas no século dezanove.
Para si, Rui,felicitações pelo seu blog com poesias de BOM GOSTo.
DMF, sempre será um mestre das letras, imortal como qualquer outro poeta...
coincidentemente, e sei que a razão nunca seria essa, deixou de distribuir poesia na rua desde este poema de david mourão-ferreira, onde tive uma abordagem se calhar não muito educada. estava num dia alcalino (os dias em que falo falo falo, mas regra geral sou caladíssima). peço desculpa. e espero sinceramente que a poesia volte ao seu lugar: à rua, esta.
p.s. - fiz um trabalho sobre melros (não biologia, claro), a sua etiqueta deu-me material precioso. muito obrigada.
cumprimentos,
ana
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