MARIA ALBERTA MENÉRES
Constróis o dia olhando aquela pedra:
do meu olhar em ti se constrói o meu dia.
Que mundos sucessivos se encadeiam nos homens?
Que mar de ondas inquietas sob o tranquilo mar?
Ao nosso olhar apenas se decompõe o mundo,
se decompõe a pedra em fantásticos gestos,
insuspeitados seres, insuspeitada angústia
arrancando de si o mágico sentido.
Constróis o dia olhando a beleza escondida:
da mesma solidão se constrói o meu dia.
Que harmonia se inventa dos meus olhos no ar?
Para a pedra desfeita, que harmonia se inventa?
(de Água-Memória, 1960)
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