DANIEL FARIA (sob o pseudónimo Sérgio de Sempre)
A Casa de Deus
I
Longos degraus tem a primavera
E uma mulher que desce dos outeiros
Traz no seu colo um ramo dessa casa
Festiva onde vem desaguar
O rio sagrado deste vento
No soalho o silêncio derramado
Ou o sangue das palavras que caíram
Sob a face de uma voz que não gritou
No altar as mulheres bordam incenso
Celebram as canções com que embalaram
Os filhos O Deus A vida inteira
II
Casa de Deus
Os homens trazem na cintura velhas ânforas
Querem enchê-las de luz e de silêncio
Só há água nessa casa os homens partem
Não virão senão quando for noite
III
Mão sozinha que espera paciente
Como um berço convida a navegar
Um menino que tem velas mais vento
Virá um dia saber como é o mar
IV
Ouvem-se os cavalos já é noite
Os homens vêm vindimar
Os cabelos longos das mulheres
Que vieram orar pela manhã
Corre! - escrevem nas paredes
Os meninos
Corre!
Escrevem em segredo como quem
Rouba flores p'ra levar às mãos de Deus
V
Eis aberto espaço aberto
A sílaba interior de um nome imberbe
Casa de Deus
A casa das crianças que cresceram
Ou a casa das crianças para sempre
Longos degraus tem a primavera
E uma casa
A de Deus no cimo dos outeiros
(in Legenda para uma casa habitada, Paroquia de Santa Marinha de Fornos (Marco de Canavezes), 2000)
Sobre Pontas Soltas I, de José Gil
Há 11 horas
1 comentário:
..gosto da ideia... da casa das crianças para sempre...e a casa de Deus no cimo dos outeiros :)
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