JOSÉ AUGUSTO MOURÃO
o anjo e o vitral
venha o teu anjo
que nos trespasse a alma
de palavras novas
venha o teu anjo
como raio que atravessa o vitral
e não o quebra
e o transfigura
venha o teu anjo
extirpar do corpo
o demónio da surdez e do mutismo
que não guarda a alma
nem o seu jardim canoro
não se tornem as palavras que dizemos
lama ou sapos,
mas evangelho,
alegria do mundo
venha o teu anjo
mostrar o túmulo vazio
de onde o Logos corre
e de onde outros corpos sacramentais
se formam
que do interminável léxico das coisas
a nossa voz te diga
e o nosso corpo te bendiga,
pela hora que passa
e o rosto acreditado
(de dizer DEUS ao (des)abrigo do Nome, Difusora Bíblica, 1991)
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