4.7.11

ARTUR PORTELA FILHO


Os cães


O rafeiro chegou ao pé do cão do portão e perguntou-lhe:
— Tu é que és o meu dono?
Como o cão do portão dissesse que não sabia responder, foram os dois lá dentro procurar o cão do jardim e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como o cão do jardim dissesse que não sabia responder, foram os três procurar o cão da porta e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como o cão da porta dissesse que não sabia responder, foram os quatro procurar o cão da cozinha e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como o cão da cozinha dissesse que não sabia responder, foram os cinco procurar o cão do corredor e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como cão do corredor dissesse que não sabia responder, subiram os seis a procurar o cão da escada e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como o cão da escada dissesse que não sabia responder, subiram os sete a procurar o cão do patamar e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como o cão do patamar dissesse que não sabia responder, subiram os oito a procurar o cão da porta e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como o cão da porta dissesse que não sabia responder, entraram os nove a procurar o cão do quarto e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
Como o cão do quarto dissesse que não sabia responder, foram os dez procurar o osso e perguntaram-lhe:
— Tu é que és o nosso dono?
O osso ladrou.

(de Três lágrimas paralelas, editorial Caminho, 1987)

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