[outros melros LXIV]
ANTÓNIO DE MACEDO PAPANÇA, CONDE DE MONSARAZ
A CALMA
O sol caustica a prumo a rústica devesa!
Exala-se da terra um bafo ardente; o gado,
Sedento, mal resfolga à sombra do montado,
Nas fulvas crispações dessa fornalha acesa.
Canta, refresca o ouvido a água na represa
Da azenha e ao longe a voz dum melro fatigado
Quebra, de quando em quando, o silêncio pesado
Da sesta, que adormenta em roda a natureza -
Arquejam, bico aberto, as galinhas e os patos;
E eu que, a escorrer suor, abro os olhos a custo,
Esperguiço-me, acordo, e artista como um grego,
O meu olhar pagão vê, através dos matos,
Mover-se o corpo nu, elástico, robusto,
Dum filho do moleiro a chapinhar no pego.
(de Musa Alentejana, 1908)
Sem comentários:
Enviar um comentário