15.9.13

GILBERTO MENDONÇA TELES


CAMUFLAGEM

Havia um sujeito puro,
capaz das coisas mais ternas.
Veio o mundo com seus m'urros,
com seus disfarces de fera

(casco de ouro reluzindo
na arquitetura da noite)
e transformou tudo em cinza
na gestação de seus coices.

Cavalgou pelo silêncio
seus cavalos cor de barro
e foi largando no chão
o -ão do não de seus passos.

Depois, com dentes e unhas,
mostrou-se inteiro, no avesso:
era outro i'mundo, mas c'ego,
não tinha garras aduncas,

não tinha amarras nos murros,
não era fúria nem f'era,
nem viu o sujeito puro,
capaz das coisas mais ternas.


(de A Raiz da Fala, 1972)

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